Por
Eduardo Rosa Pedreira.
Não resta
dúvida: o cerne da espiritualidade cristã está em seguir a Jesus.
No princípio, era o seguidor! Jesus irrompia inesperadamente e dizia: “Segue-me, venha após a mim”. A resposta positiva exigia uma ruptura com a maneira de viver até aquele momento do que aceitava o convite. A vida deveria ser reorganizada. O centro era o mestre e o caminho apontado por ele. Quem aceitava tal convite nos seus termos tornava-se um discípulo.
No princípio, era o seguidor! Jesus irrompia inesperadamente e dizia: “Segue-me, venha após a mim”. A resposta positiva exigia uma ruptura com a maneira de viver até aquele momento do que aceitava o convite. A vida deveria ser reorganizada. O centro era o mestre e o caminho apontado por ele. Quem aceitava tal convite nos seus termos tornava-se um discípulo.
Também,
no princípio, existia o simpatizante: aquele que se emocionava com as palavras
do Cristo, achava fantásticos os seus milagres, impressionava-se com a
originalidade de suas atitudes, nutria enorme curiosidade por encontrá-lo – mas
não colocava o pé no caminho. Simpatizava até o ponto de não precisar mudar seu
estilo de vida. Tinha admiração, mas não estava interessado na transformação
resultante da formação espiritual à qual todos os discípulos viveriam quando
resolvessem caminhar o caminho proposto pelo Filho de Deus.
Ainda no
princípio, havia o consumidor. Este sequer tinha tempo de ouvir o Senhor;
desejava, isso sim, comer o pão e o peixe multiplicados, ansiava pela cura da
perna atrofiada, somente tinha interesse em ser restaurado da lepra... Uma vez
alcançada a graça, nem sequer lembrava de retornar para agradecer.
O
discípulo seguia Jesus porque o admirava; o simpatizante admirava sem o seguir,
e o consumidor nem seguia e nem admirava, posto que Jesus era apenas um provedor
de suas necessidades, e não alguém a apontar-lhe um caminho transformador.
Jesus
conviveu indistinta e graciosamente com estes três grupos dentro da multidão
que gravitava ao seu redor. Nunca se negou a oferecer caminho aos seguidores,
admiração aos simpatizantes e provisão aos consumidores. Todavia, o rabi sabia
que os discípulos eram os protagonistas para cumprir sua missão no mundo.
Certamente, ele não contava com simpatizantes e consumidores para o
estabelecimento do Reino de Deus. Estava certo, como sempre!
Nos
duzentos anos que se seguiram à sua morte, o pequeno e frágil grupo inicial de
discípulos, apaixonado por sua missão, se espalhou por todo Império Romano.
Eles haviam sido convocados pessoalmente para seguir um caminho; colocaram o pé
na estrada e saíram pelas vilas e cidades com a mesma convocação com que foram
convocados: sigamos o seu caminho. Quanto aos simpatizantes e consumidores, não
se sabe o que aconteceu com eles. Afinal, quem fez a história foram os
discípulos.
Não resta
dúvida: o cerne da espiritualidade cristã está em seguir a Jesus. Quando
decidimos conscientemente seguir o seu caminho, então a espiritualidade cristã
começa a fluir em nós. O Pai, pelo seu Espírito, vai nos transformando na
imagem de seu Filho à medida que damos os passos no caminho. Fora do
seguimento, não há espiritualidade.
Todos nós
estamos necessitados de retornar à experiência original dos primeiros
discípulos. Sim, nossa carência essencial está em “ver” Jesus de novo surgir em
meio à nossa complexa e agitada vida, cheia de cansaço e dores, e sussurrar com
ternura e vigor ao nosso coração: “Vem e segue-me!” Quando ele irromper no
nosso cotidiano, como aconteceu com os pescadores da Galileia ou com o coletor
de impostos da Judéia, com aquele sedutor olhar a nos convidar a seguir o seu
caminho, e largarmos as redes ou a segurança da coletoria, aceitando seu
convite, então, experimentaremos real comunhão com o Deus trinitário.
Longe do
caminho do Filho, não seremos capazes de enxergar a face do Pai e tampouco
vivenciar a presença do Espírito. De fato, no cristianismo bíblico,
espiritualidade é um mero sinônimo de seguimento. Se as nossas orações,
liturgias, louvores, corais, células, congressos e mensagens não apontam o
caminho do Senhor e não convocam o mundo para segui-lo, então, tudo isso pode
até ser espiritualidade, mas não é cristã. Se nossas igrejas se tornam fontes
de atração para consumidores e admiradores, ao invés de espaços comunitários
formadores de discípulos, tenhamos consciência: todos devem ser tratados com
graça e amor, como Jesus fez, mas só cumpriremos sua missão no mundo sendo e
formando seguidores.
Não
deveríamos, mas, infelizmente, estamos hoje diante de uma encruzilhada, que por
natureza é o entroncamento de dois caminhos. Entrar por um é necessariamente
excluir o outro. Ou escolhemos a espiritualidade do entretenimento, que produz
simpatizantes e consumidores, ou optamos pela espiritualidade do seguimento, a
que gera discípulos. Tenhamos, contudo, uma certeza – desde sempre, Jesus já
fez a sua escolha. Basta, apenas, que o imitemos nela.
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