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quarta-feira, 9 de abril de 2025

 

 

ASSÉDIO MORAL NA IGREJA: ALERTA E PREVENÇÃO

O ambiente eclesiástico não está imune e as consequências podem ser trágicas

Por Robson Ramos



Este breve artigo tem como objetivo chamar atenção para um tipo de conduta, nos ambientes eclesiásticos que não é tão incomum como possa parecer: assédio moral.

As consequências do assédio moral, e de outras condutas igualmente perniciosas que normalmente acompanham o assédio, podem levar à depressão, crises de pânico e ansiedade. Em situações extremas pode levar ao suicídio.

Ainda que a legislação brasileira esteja aí para proteger as pessoas no ambiente de trabalho, muitas vítimas enfrentam dificuldades para denunciar e chamar à responsabilidade os autores desse tipo de violência, sobretudo no ambiente eclesiástico.

Caso # 1

O que dá mexer com gente poderosa na igreja

Um pastor havia assumido o pastorado de uma importante igreja e pouco tempo depois chegou ao seu conhecimento que um dos integrantes de sua equipe, líder de um dos ministérios, tinha cometido adultério e, para piorar as coisas, era reincidente. Diante disso o pastor sênior, recém-contratado, recomendou ao presbitério o afastamento desse líder.

O pastor, no entanto, não sabia que o líder em questão era da família mais influente da igreja. Não apenas isso, o coordenador do presbitério era o chefe desse influente clã familiar.

Nessa hora as ligações familiares falam mais alto. O tal coordenador do presbitério influenciou todo o presbitério no sentido de afirmar que o pastor não tinha provas do que estava falando. No frigir dos ovos o pastor acabou sendo demitido, descobrindo mais tarde que durante todo o período em que esteve à frente daquela comunidade não teve os valores relativos à sua Previdência Social devidamente recolhidos. O tesoureiro havia sido orientado pelo coordenador do presbitério – aquele mesmo que era o líder do clã - a não fazer os recolhimentos. Aquilo acabou prejudicando sobremaneira a contagem de tempo para a sua aposentadoria.

Caso # 2

O estrago que faz o ciúme de um chefe

Um pastor mais jovem vai para um outro país, para atuar auxiliar um ministério que está sob a responsabilidade de um pastor que está no local há algum tempo, porém sem resultados expressivos no trabalho.

Depois de algum tempo as atividades do pastor auxiliar começaram a gerar resultados mais alvissareiros, do que o que vinha sendo desenvolvido há mais tempo pelo pastor mais antigo que, logo foi ficando com ciúmes do carinho e respeito que o pastor auxiliar, recém-chegado, recebia das pessoas.

Não demorou muito e o pastor sênior, enciumado, passou a falar de forma depreciativa do pastor mais jovem. Tudo indicava que, no mínimo, o intuito era criar certo desconforto e forçar sua saída.

Como consequência, o pastor auxiliar teve suas atividades encerradas, por uma decisão unilateral do chefe. As únicas alegações eram de que o rapaz estava introduzindo ideias e práticas incompatíveis com a tradição daquela denominação. Simples assim.

Com filhos pequenos matriculados na escola, a família segue na mesma localidade, sem trabalho, com contas pra pagar e com o sustento – que vem do Brasil – comprometido. Não sabem se ficam naquele país ou se voltam para o Brasil, pra recomeçar a vida, com a pecha de encrenqueiro. Na realidade a pecha de encrenqueiro poderá segui-lo por onde quer que vá, graças à campanha feita pelo pastor que o recebera tão bem, num primeiro momento.

Caso # 3

O mal causado por uma carniça desenterrada

Numa outra situação, após um longo e minucioso processo – como é comum na contratação de alguém para um cargo importante – um pastor estava em vias de ser oficializado como pastor sênior numa igreja famosa, numa grande capital.

Providências relacionadas com moradia e transferência de escola para os filhos já estavam bem alinhadas. As bases da contratação, de ambos os lados, já estavam acertadas. Finalmente, após praticamente um ano, depois de concluído o processo de contratação do novo pastor e a congregação devidamente informada, era grande a convicção de que tinham feito a melhor escolha. Até que, surgiu algo absolutamente inimaginável e o mundo veio abaixo.

Alguém, da equipe de liderança da igreja, desenterrou algo do passado do novo pastor que, supostamente, o desabonaria para assumir o cargo de pastor sênior, para o qual estava sendo contratado.

É preciso dizer alguma coisa sobre a confusão que se instalou? De quem era a responsabilidade por tudo aquilo? Teria o “abençoado irmão” – integrante do colegiado – agido corretamente ao divulgar aos “quatro ventos” uma situação que já estava enterrada e, pelo que se apurou, resolvida?

O que dizer dos danos morais e materiais causados ao pastor que viu seu ministério pastoral, presente e futuro, comprometido?

Tudo por causa da atitude de uma única pessoa que, sabe-se lá com que motivação, achou que tinha o direito e o dever de se envolver com um assunto que não lhe dizia respeito, mas que achou que estava falando em nome da igreja.

Casos de assédio moral na igreja não são incomuns

Situações como as acima apresentadas, e que podem ensejar alguma responsabilização por “assédio moral”, e por outros delitos, não são incomuns. Relatos sobre comportamentos desse tipo grassam por toda parte. O ambiente eclesiástico é pródigo nisso, mas, convenhamos, pouco ou nada se fala sobre o assunto.

A jornalista Marília de Camargo Cesar, discorrendo sobre os “feridos em nome de Deus”, escreve 1:

“Na prática, o abuso ocorre de formas variadas, umas escancaradas, outras sutis. Ser tachado de rebelde ou de insubordinado apenas por ter resistido a uma ordem pastoral, por discordar dela, é um exemplo de abuso. [...] É ser humilhado inúmeras vezes diante de terceiros. Ser exposto como alguém alheio à visão do corpo, do “mover do Espírito”, para usar um jargão bem evangélico”.

No livro de Marília, verifica-se como pessoas incautas e vivendo uma condição de vulnerabilidade são “habilmente capturadas pela manipulação emocional de líderes medíocres de plantão ... [...] mais cedo ou mais tarde o castelo de cartas desmorona deixando feridas abertas pelo caminho”.

Assédio moral no Código Penal

Os relatos acima remetem à conduta descrita no artigo 146-A, do Código Penal Brasileiro, que assim define o que seja o Assédio Moral: “Ofender a dignidade de alguém, causando-lhe dano ou sofrimento físico ou mental, no exercício de emprego, cargo ou função”.

Para ser “assédio moral”, nos termos do Código Penal, é preciso que a conduta ocorra no ambiente de trabalho, particularmente no contexto de relações hierárquicas, e de forma reiterada. Isso não significa, no entanto, que as condutas tenham que ocorrer entre as “quatro paredes” do escritório.

Vale lembrar que o “assédio moral” pode se configurar via mensagens de e-mail e/ou em eventos e compromissos sociais, jantares ou conferência da igreja ou organização missionária.

Toda vez que uma conduta abusiva que viole a integridade psíquica, física e a dignidade de uma pessoa, no ambiente de trabalho, é praticada de forma reiterada, está-se diante de “assédio moral”. Isso pode ocorrer de várias maneiras, seja por atitudes, palavras e até mesmo mensagens enviadas. Às vezes é dirigido a uma ou mais pessoas, também com fins discriminatórios, ocorrendo de maneira repetitiva e gradativa.

Numa análise do assédio moral, Vladimir Passos de Freitas e Charles Giacomini, ensinam 2:

“O assédio moral está presente em empresas e instituições que ainda não chegaram à cultura de integridade, que é um requisito para a dignidade profissional. Seu enfrentamento se dá pelo estabelecimento de standards mínimos para as relações humanas no ambiente de trabalho (físico ou virtual)”.

Condutas que podem caracterizar “assédio moral”

• Desqualificar o trabalho e contribuição do funcionário, especialmente se publicamente;
• Retirar o trabalho injustificadamente, caracterizando uma situação de ócio;
• Deixar o assediado numa situação de isolamento perante a equipe;
• Ignorar a presença da pessoa na frente de outros colegas;
• Fazer perguntas indicativas de que seu tempo na organização está chegando ao fim. Exemplo: “você já pensou no que vai fazer quando deixar de trabalhar aqui?”
• Delegação de tarefas sem interesse ou afinidade com as habilidades e formação do funcionário;
• Cobranças abusivas e impróprias;
• Aproveitar-se de momentos a sós com a vítima para fazer investidas indevidas;
• Pedir para o(a) colaborador(a) fazer hora-extra e fazer comentários de cunho pessoal, tais como: “este vestido fica muito bem em você”, “esse corte de cabelo te deixa ainda mais bonita”; “Se você puder trabalhar até mais tarde eu posso te dar uma carona até sua casa.”

É necessário ressaltar que a incidência de comportamentos como os acima elencados indica a necessidade de uma averiguação aprofundada da situação, por parte da diretoria da organização, e não por uma pessoa apenas, já que a conduta assediadora pode estar partindo justamente do gerente ou do líder principal que certamente fará vista grossa e tentará colocar panos quentes.

Essas práticas afetam as pessoas de maneiras diferentes. Em razão da angústia gerada pelas experiências abusivas surge a depressão, estresse e alterações no comportamento. Inevitavelmente tais ocorrências afetam todo o ambiente de trabalho.

O combate ao assédio moral no ambiente de trabalho, seja na igreja, na organização missionária, na editora cristã e/ou numa instituição de ensino teológico, é fundamental para prevenir e reduzir a possibilidade de ações judiciais e danos causados à reputação das partes envolvidas.

Conclusão

Seguramente o tema não se esgota com o artigo ora apresentado. É preciso prevenir, detectar e lidar com situações de assédio moral na igreja, na agência missionária, numa instituição de ensino teológico e entidades afins.

Por isso é fundamental cultivar um ambiente mais saudável e seguro de se trabalhar e servir, qualquer que seja o vínculo com a organização da qual você faz parte, independentemente de você ser um pastor, missionário, funcionário com carteira assinada ou um voluntário.

A implementação de um programa de combate ao assédio é o caminho seguro como forma de zelar pelo ambiente de trabalho e bem-estar dos que estão à nossa volta, com medidas que visem a transparência e fortalecimento do ambiente da organização.

Notas
1. CESAR, Marília de Camargo. Feridos em Nome de Deus, Editora Mundo Cristão, São Paulo, 2009), p. 32, versão Kindle.
2. FREITAS, Vladimir Passos e GIACOMINI, Charles. Assédio moral sob diferentes aspectos.  Acessado em 15/03/2025.
ImagemUnsplash.

Robson Ramos é advogado e mediador em conflitos organizacionais. Mestre em Direito pela UNIVALI/Itajaí, SC. Ex-Assessor da ABU e ex-Diretor Nacional da Sociedade Bíblica Internacional, responsável pela publicação da Bíblia NVI, em 2001. Organizador e coautor de A Nova Face da Missão: desafios plurais para um mundo em convulsão (Descoberta Editora, Londrina, 2024); organizador e coautor de Compliance para micro, pequenas e médias empresas (Editora D´Plácido, BH, 2023), e autor de Evangelização no Mercado Pós Moderno (Ultimato, Viçosa, 2003). Reside em Bombinhas, SC.

Disponível em: < https://www.ultimato.com.br/conteudo/assedio-moral-na-igreja-alerta-e-prevencao > Acesso em: 09 Abr 2025.

 

 

 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A ORAÇÃO NÃO SUPRE A OMISSÃO

 O omissão é a trincheira dos covardes e coniventes. 

Por Adiel Teófilo. 

Sabemos que a oração a Deus em Nome Jesus Cristo é o meio indispensável e permanente para alcançarmos tudo quanto necessitamos. “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho.” (João 14.13)

Sem oração não se manifesta a luz de Cristo, mas ninguém se torna luz do mundo apenas com oração. É preciso agir por meio das boas obras de Cristo, para que a luz resplandeça perante as trevas das más obras dos homens. “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mateus 5.16).

A oração fortalece contra o pecado, porém não se enfrenta o pecado somente com oração. Devemos colocar em prática as virtudes da verdade e da justiça de Deus, no combate contra o pecado dos homens que tentam nos envolver. “Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestindo-vos da couraça da justiça.” (Efésios 6.14

A oração é indispensável na vida espiritual, porém não se vence a luta espiritual somente com oração. Devemos enfrentar o mal praticando o bem que agrada ao Senhor Jesus, jamais se omitindo diante dos homens e nem fugindo do confronto com as suas obras pecaminosas. “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tiago 4.17)

A prática da oração é uma grande virtude cristã, mas o verdadeiro cristão não pode se acomodar apenas com oração. Não devemos nos omitir nas situações que exigem atitudes de integridade e confronto aberto contra o pecado, até mesmo com o risco da própria vida. “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” (Hebreus 12.4).

A oração manifesta a justiça de Deus, mas não se alcança a justiça Divina apenas com oração. Precisamos desempenhar a verdadeira justiça de Cristo para com todos os homens, refutando a aparente religiosidade que acoberta toda forma de injustiça. “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.” (Mateus 5.20)

A oração é meio de buscar o julgamento de Deus sobre as ações humanas, porém não se julga as ações humanas somente com oração. É preciso examinar tudo e decidir pelas verdades através dos princípios e valores Bíblicos, condenando as mentiras e os enganos do nosso tempo que tentam iludir os cristãos. “Não julgueis segundo a aparência, e, sim, pela reta justiça.” (João 7.24).  

A oração muda as circunstâncias, entretanto há circunstâncias que não mudam apenas com oração. Não podemos ficar hesitantes diante da injustiça e da sujeira moral no arraial cristão, na apatia religiosa de um evangelho que se omite e cambaleia entre a santidade e a aparente piedade. “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” (Apocalipse 22.11)

Portanto, não sejamos omissos ou negligentes diante do erro, “antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado.” (Hebreus 3.13).

 

domingo, 7 de abril de 2024

O POVO DE DEUS E AS TATUAGENS

 

Pr. Adiel Teófilo.

O uso de tatuagens tem se multiplicado entre aqueles que se declaram cristãos evangélicos. Essa prática tem dividido opiniões e frequentemente surgem dúvidas se o cristão pode ou não fazer uso de tatuagens. A busca de resposta definitiva para essa questão não é tarefa fácil à luz da Bíblia Sagrada. Além das divergências de opiniões há também diferentes interpretações das Escrituras, influenciadas pelo liberalismo teológico e outras tendências da pós modernidade que tentam menosprezar a autoridade de Deus em relação à santidade do corpo.

O Preceito da Lei de Deus sobre tatuagens

O versículo das Sagradas Escrituras mais antigo sobre o tema encontra-se em Levítico 19.28, Livro escrito por Moisés, por volta de 1445 a.C., que assim diz na versão Almeida, Revista e Atualizada: “Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós; Eu sou o SENHOR”. Na versão Almeida, Revista e Corrigida diz: “Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne”; o restante do versículo é idêntico à outra versão. 

Importante destacar que esse versículo faz parte do conjunto de normas e preceitos que o próprio Deus outorgou aos filhos de Israel. Isso aconteceu por intermédio do Profeta Moisés, que compilou a Torá (Lei), os cinco primeiros livros da Bíblia, também denominados de Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

O propósito de Deus ao estabelecer os preceitos da Lei para Israel era de constituir para Si um povo santo, separado das nações pagãs que habitavam a região da Palestina. Observe que o próprio SENHOR deixou muito claro essa distinção entre os povos: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo.” (Levítico 19.2).

Naquele tempo em que os Hebreus saíram do Egito sob a liderança de Moisés, as mutilações e as tatuagens já eram práticas comuns entre os povos pagãos, dentre outros costumes que não honravam e nem agradavam ao SENHOR. Por essa razão é que foi outorgada a Torá, contendo princípios morais imutáveis da Lei de Deus, para que houvesse diferença entre o povo escolhido por Deus e as nações que praticavam idolatria, feitiçaria, imoralidade, e todo tipo de iniquidade e abominação aos olhos de Deus.

A origem das tatuagens

O uso de tatuagem não é uma criação contemporânea, mas uma prática muito antiga na humanidade. Não foi criada entre o povo escolhido por Deus que saiu do Egito, mas se originou entre povos pagãos da antiguidade. É bem verdade que existem atualmente inúmeras formas, cores e modelos de tatuagens, bem como modernos equipamentos destinados a essa prática que obviamente não existiam antigamente, porém a essência desse ritual remonta a um passado distante na história, como bem ilustra o texto abaixo, extraído da Wikipedia:

Existem muitas provas arqueológicas que afirmam que tatuagens foram feitas no Egito entre 4000 e 2000 a.C. e também por nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia (maori), tatuavam-se em rituais ligados a religião. Os Ainu, um povo indígena do norte do Japão, tradicionalmente tinham tatuagens faciais, assim como os austro-asiáticos. Hoje, pode-se encontrar em diversas etnias espalhadas pelo mundo o costume de se utilizar tatuagens faciais, entre estes povos tem se os berberes do Norte da África, os iorubas, os fula e hauçás da Nigéria e os maoris da Nova Zelândia.

Múmias tatuadas foram recuperadas de pelo menos 49 sítios arqueológicos, incluindo locais na Groenlândia, no Alasca, na Sibéria, na Mongólia, no oeste da China, no Egito, no Sudão, nas Filipinas e nos Andes. Estes incluem Amunet, Sacerdotisa da Deusa Hathor do antigo Egito (c. 2134-1991 aC), múltiplas múmias da Sibéria, incluindo a cultura Pazyryk da Rússia e de várias culturas em toda a América do Sul pré-colombiana. Em 2015, a reavaliação científica da idade das duas mais antigas múmias tatuadas conhecidas, identificou Ötzi como o exemplo mais antigo atualmente conhecido. Este corpo, com 61 tatuagens, foi encontrado embutido em gelo glacial nos Alpes, e datado de 3.250 a.C.

Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Tatuagem >. Acesso em: 07 Abr 2024.

O relato acima demonstra que as tatuagens surgiram entre povos pagãos da antiguidade, especialmente entre os egípcios, nação de onde Deus tirou os filhos de Israel e lhes deu claras instruções para que não seguissem as mesmas práticas e costumes, e nem a cultura daqueles povos que não se voltaram para o SENHOR.  

As Leis sobre padrões de comportamento para o povo de Israel

Os capítulos 18, 19 e 20 de Levítico devem ser analisados em conjunto, pois registram leis que estabelecem padrões de comportamento que os israelitas deveriam observar fielmente, a fim de não se contaminarem com as práticas do paganismo rejeitadas pelo SENHOR. E os preceitos da Lei foram muito claros nesse sentido, porque os padrões do povo de Deus não poderiam ser ditados pelas práticas do Egito e nem de Canaã, mas ensinados pelo próprio SENHOR:

Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Fareis segundo os meus juízos, e os meus estatutos guardareis, para andardes neles: Eu sou o SENHOR vosso Deus. [...]

Portanto guardareis a obrigação que tendes para comigo, não praticando nenhum dos costumes abomináveis que se praticaram antes de vós, e não vos contamineis com eles: Eu sou o SENHOR vosso Deus.

(Levítico 18.3, 4 e 30)  (grifamos)

O texto aponta obras, costumes e práticas que não devem ser imitadas por aqueles cujo Deus é o SENHOR. No capítulo 18.6 a 23 estão relacionadas práticas sexuais abomináveis condenadas pelo SENHOR, com exceção do versículo 20, que trata de prática religiosa também rejeitada por DEUS, que era o culto a Moloque, divindade Amonita que envolvia sacrifício de crianças, conforme capítulo 20. 1 a 5.

O capítulo 19, cujo versículo 28 fala sobre tatuagens, contém diversos preceitos relacionados com a vida cotidiana, e o capítulo 20 descreve outras condutas e práticas sexuais também abomináveis, condenadas pela Lei de Deus. Interessante observar que assim diz o SENHOR ao seu povo na parte final do capítulo 20 de Levítico:

Não andeis nos costumes da gente que eu lanço fora de diante de vós, porque fizeram todas estas cousas; por isso me aborreci deles. Mas a vós outros vos tenho dito: em herança possuireis a sua terra, e eu vo-la darei para a possuirdes, terra que mana leite e mel: Eu sou o SENHOR vosso Deus, que vos separei dos povos.

[...]

Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo, e separei-vos dos povos, para serdes meus.

(Levítico 20.23, 24 e 26) (grifo nosso)

Nesse contexto, constata-se que o propósito de Deus foi estabelecer notória diferença de práticas e costumes entre o SEU POVO e os povos entregues ao paganismo, devendo aqueles que se dizem servos do SENHOR observar em sua vida cotidiana os preceitos e juízos estabelecidos por Deus, para que possam desfrutar de todas as bençãos prometidas ao seu povo.

A proibição de fazer qualquer marca sobre o corpo

Analisando com mais profundidade Levítico 19.28, transcrito no início, podemos compreender que a primeira parte se constituiu numa clara proibição, emanada do próprio SENHOR e direcionada ao povo escolhido para servir e adorar a Deus: não deveriam ferir para fazer cicatriz e nem golpear para mutilar qualquer parte do corpo, seja a fim de homenagear alguém que morreu ou mesmo com a finalidade de expressar a dor pela morte de um ente querido.

A segunda parte do versículo contém uma proibição bem mais ampla que a primeira antes comentada. Conforme o texto sagrado não é permitido ao povo escolhido fazer nenhuma marca sobre o corpo. Nessa expressão “marca”, compreende-se sinal, desenho, inscrição ou coisa semelhante dentre as formas de tatuagens então existentes. Observe que todas as espécies de marcas são proibidas, qualquer que seja a sua finalidade, como por exemplo adorno, homenagem a alguém ou identificação de grupo, tribo ou nação.

O versículo se encerra ressaltando a soberania do SENHOR sobre o povo que O serve: “Eu sou o SENHOR”. Essa expressão é repetida mais de vinte vezes nos capítulos 18, 19 e 20 de Levítico. Esse Senhorio não se referia apenas ao povo em conjunto como nação escolhida, mas também individualmente sobre o corpo de cada um deles, que deveria ser consagrado ao SENHOR, sem marcas, sinais, mutilações ou coisas semelhantes. A marca que os identificaria a partir de então era a aliança com o SENHOR mediante a obediência à Sua Lei, fazendo assim a diferença entre o SEU POVO e as demais nações da terra.  

O Senhorio de Deus sobre o corpo do cristão

Sabe-se que no Novo Testamento não há proibição expressa contra marcas e tatuagens no corpo, tal como encontramos em Levítico 19.28. No entanto, devemos considerar que não há ruptura entre os dois Testamentos, prevalecendo vigentes todos os princípios morais da Lei de Deus. O Novo não revogou nem aboliu o Antigo Testamento, mas ambos formam a Unidade da Revelação de Deus aos homens. Tanto é que o próprio Senhor Jesus disse que não veio para revogar a lei ou os profetas, mas para cumpri-los (Mateus 5.17 a 19).  

Além do mais, continuam presentes no Novo Testamento a mesma soberania e o mesmo zelo do SENHOR sobre o corpo físico daqueles que se renderam ao Senhorio de Cristo, tornando-se filhos de Deus mediante a fé no Senhor Jesus. Esse Senhorio de Cristo se revela na santidade que o Espírito Santo manifesta em relação ao corpo daqueles que pertencem a Deus. O Apóstolo Paulo, ao advertir contra a frouxidão moral e a favor da santidade do corpo, assim escreveu:

Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

(I Coríntios 6.19 e 20) (grifamos)

E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o SENHOR; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o SENHOR Todo-poderoso.

(II Coríntios 6.16 a 18) (grifo nosso)

 

Percebe-se por meio desses versículos a vigência e atualidade daquele mesmo princípio moral instituído pelo SENHOR através da Lei de Moisés: deve existir notória separação de práticas e costumes do povo de Deus em relação ao comportamento daqueles que não servem ao SENHOR. Porquanto, não há harmonia entre Cristo e o maligno, nem união do crente com o incrédulo, e nem ainda ligação entre o santuário de Deus e os ídolos (II Coríntios 6.15 e 16).   

Diante dessas verdades Bíblicas, surgem algumas indagações para reflexão de todo cristão: qual a finalidade de fazer tatuagem no corpo? Isso glorifica a Deus no corpo? Antes de fazer tatuagem, o SENHOR do corpo foi previamente consultado? Qual a origem e o significado da marca que será gravada no corpo, honrará a Deus ou tem ligação com o paganismo?

A proliferação das tatuagens na sociedade contemporânea

Na atualidade parece normal encher o corpo de tatuagens, entretanto muitos cristãos não sabem a origem e nem sequer o significado daquilo que está marcando o seu corpo. Outros homenageiam os pais e pessoas da família e até mortos tatuando os seus nomes, tatuam lemas de vida, frases de efeito, palavras ou versículos Bíblicos, além das mais variadas figuras e ilustrações como ornamento. E o Espírito Santo, será que se alegra e não se sente incomodado com essa iniciativa? Como fica a distinção de costumes do Povo de Deus?

E assim as pessoas vão se acostumando cada vez mais com marcas e inscrições no corpo. Certamente muitos não terão a menor dificuldade em aceitar uma nova marca mundial, convencidos pela propaganda dos vários benefícios que o sinal representará para o conforto, comodidade e segurança nas transações comerciais cotidianas. Outros poderão estar despercebidos e facilmente vão abrir mão da liberdade de escolha, sem fazer qualquer questionamento e nem se importar com as consequências em receber esse novo sinal.

Até parece que a sociedade vem adotando comportamento que se constitui verdadeira preparação para o governo do anticristo na terra. Chegará o tempo em que todos serão obrigados a aceitar o sinal ou marca da besta, sem o qual ninguém poderá fazer qualquer negócio, mesmo uma pequena compra no comércio da esquina. Assim diz a profecia Bíblica:

E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. (Apocalipse 13.16 e 17)

Infelizmente, quem receber essa marca não terá a bênção de Deus. Pelo contrário, sofrerá a condenação eterna, por se subjugar a um governo que se levantará contra o FILHO DE DEUS. Assim nos adverte a Bíblia Sagrada:

E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome. (Apocalipse 14.9-11) (grifei)

Enfim, muitas coisas são lícitas perante os homens, porém nem todas convém ao povo de Deus realizar. Há inúmeras práticas e costumes que são aprovados pela sociedade, todavia os filhos do SENHOR devem reprová-los, adotando o padrão de comportamento estabelecido nas Sagradas Escrituras, fazendo notória a distinção daquele que serve ao SENHOR.     

domingo, 19 de março de 2023

A IGREJA DENTRO DA LEI - Estatuto de Congregações

Por Adiel Teófilo.


Existem muitas denominações evangélicas no país que possuem várias congregações filiadas a uma igreja sede. Sabemos que não raras vezes, a maioria dessas congregações funcionam de maneira informal, sem estatuto registrado que lhes assegure personalidade jurídica própria como uma organização religiosa. A dúvida mais recorrente de grande parte dos líderes de igrejas é se as congregações podem de fato ter estatuto próprio, e ainda, se ao registrar um estatuto, as congregações passariam a ser independentes da igreja sede, ganhando assim plena autonomia.

A resposta a essas indagações é que as congregações podem sim ter estatuto próprio, sem que isso implique necessariamente em conceder total autonomia administrativa e eclesiástica a essas congregações filiadas à igreja sede. Isso porque no próprio estatuto podem constar normas que especifiquem como estão organizadas as congregações, detalhando também o seu funcionamento como unidade vinculada a uma igreja sede.

Desse modo, o estatuto não descaracteriza os aspectos que são inerentes a uma congregação. Muito pelo contrário, nesse documento podem constar todas as atribuições e responsabilidades que devem ser observadas ao se administrar uma congregação, harmonizando assim o seu funcionamento com a estrutura administrativa e eclesiástica da igreja sede a que está vinculada. Constata-se, portanto, que o estatuto consolida a estrutura administrativa, na medida em que as normas de funcionamento da congregação passam a ser escritas e documentadas, exigindo o seu fiel cumprimento.

Além disso, outras vantagens decorrem de se ter um estatuto próprio para a congregação. É possível abrir conta bancária em nome da congregação como pessoa jurídica, evitando movimentar recursos financeiros em nome do tesoureiro ou do dirigente, como ocorre frequentemente na prática. Os atos e contratos da vida civil podem ser praticados em nome da congregação, a exemplo do contrato de locação de imóvel, contratos bancários, notas fiscais, dentre outros. Essa medida é importante para evitar confusão entre obrigações da congregação e obrigações do dirigente, bem como evitar confusão patrimonial, acarretando muitas vezes prejuízos para a congregação.

É importante ressaltar que nem sempre os oficiais de cartório do registro de pessoas jurídicas compreendem a vinculação que existe entre congregação e igreja sede. A experiência de registro promovida aqui no Distrito Federal revelou essa realidade, pois há oficiais que também interpretam que o estatuto concederá plena autonomia à congregação. Foi necessário explicar como se organiza e funciona essa estrutura dentro da denominação, usando como exemplo a organização político-administrativa do Estado Brasileiro, constituído por União, Estados e Municípios, todos autônomos, porém formando a República Federativa do Brasil, nos termos do art. 18, da Constituição Federal.

A par desses esclarecimentos, foram registrados os estatutos de congregações que funcionavam há vários anos em Cidades do Distrito Federal. Algumas possuíam inclusive imóvel próprio, porém pendente de registro imobiliário, o que pode agora ser regularizado, inclusive para fins de obtenção da isenção do IPTU. Portanto, recomenda-se que as congregações saiam da informalidade e promovam o registro de estatuto próprio, obtendo dessa forma capacidade jurídica para exercer os direitos e responsabilidades que lhe são inerentes, sem contudo perder a condição de congregação vinculada a uma igreja sede.     

terça-feira, 26 de maio de 2020

A IGREJA E O CORONAVIRUS


Por Adiel Teófilo.

O Brasil vem enfrentando a pandemia do coronavirus (Covid-19), desde o dia 20 de março de 2020, quando o Congresso Nacional promulgou o Decreto Legislativo nº 6, reconhecendo o estado de calamidade pública. Essa data marca o início da implantação em todo o território nacional de diversas medidas de enfrentamento da pandemia, sendo que em alguns Estados e Municípios foram impostas regras de isolamento social, restrição de várias atividades e proibição de aglomeração de pessoas. Essas medidas inevitavelmente atingiram o funcionamento das igrejas, impedindo a realização das suas atividades e celebrações coletivas regulares.
Diante disso, as denominações evangélicas, principalmente aquelas que não possuem programas de rádio e/ou televisão, foram forçadas a buscar rapidamente outros meios de manter o contato com os seus membros. Nesse sentido, as redes sociais foram de grande valia, pois viabilizam o contato virtual com a membresia, a custo baixo, através de aplicativos e canais de comunicação pela internet, possibilitando, embora à distância, a realização das celebrações religiosas, como cultos, escolas bíblicas e ministração da Ceia ordenada pelo Senhor Jesus Cristo.
O desafio da igreja fora dos templos
Nesse tempo de pastoreio e ministrações à distância, o grande desafio para líderes e liderados é continuar sendo Igreja mesmo fora dos templos. A habitualidade das celebrações presenciais durante a semana foi substituída de forma súbita e inesperada por momentos on line, nos quais não há proximidade afetiva entre as pessoas, nem a interação direta entre os integrantes da comunidade local. Não resta dúvida de que esse afastamento social implica numa perda substancial da qualidade dos cultos e na impossibilidade de se desenvolver uma comunhão cristã íntima entre o povo. 
Esses problemas não ocorrem apenas em razão do isolamento social em si mesmo como medida de contenção da pandemia. Eles são ocasionados também por outras deficiências, como a inabilidade de certas pessoas em lidar com as novas tecnologias da informação, as distrações comuns da rotina do lar, e ainda, as dificuldades de muitos crentes em realizar devocional familiar, que propicie o ambiente favorável à participação exitosa nas ministrações à distância.  
Além disso, precisamos considerar uma realidade presente em várias denominações evangélicas.  Há igrejas que não constroem a visão voltada ao aprimoramento da comunhão entre os seus membros fora do ambiente dos templos, nem aplicam práticas capazes de tornar a vida cristã num estilo de vida mais comunitário e menos restrito ao templo. As igrejas com desenvoltura nessa prática são aquelas que realizam frequentes atividades com grupos menores, funcionando no âmbito familiar, qualquer que seja a nomenclatura atribuída ao programa. Criam dessa forma condições favoráveis para gerar intensa comunhão, o que pode ajudar bastante a superar o distanciamento em tempo de crise como esse que enfrentamos. Talvez seja necessário reinventar a forma de expressar a comunhão da igreja como preparação para situações semelhantes no futuro. 
Esse ambiente de restrição social causado pelas medidas decorrentes da pandemia, que vem se estendendo ao longo de semanas em vários Estados da Federação, deve ser ainda objeto de cuidadosa reflexão acerca dos impactos que pode causar nas igrejas evangélicas em todo o país. E aqui é pertinente fazer um importante registro: a Igreja como Corpo de Cristo na Terra não se abala nem se detém diante de pandemias, calamidades ou perseguições, mas permanece firme sobre a Rocha, a Pedra de Esquina, na qual está edificada, prevalecendo contra as portas do inferno.   
A Igreja, no entanto, como Corpo Local, constituída por pessoas que se reúnem sob as diversas denominações evangélicas, pode sofrer alguns impactos consideráveis, provocados por essa mudança repentina de comportamento social, que foi imposta a toda sociedade como forma de minimizar os efeitos da pandemia.
O impacto espiritual
O primeiro reflexo que algumas igrejas podem experimentar é o impacto espiritual. Isso diz respeito diretamente aos seus membros, pois cada pessoa reage de forma diferente em face das mesmas circunstâncias. É semelhante à reação de alguns alimentos que passam pela água fervente: a cenoura amolece, o ovo endurece no seu interior, e, o pó de café se mistura à água dando-lhe cor e sabor.
Desse modo é possível que o isolamento social provoque em determinados cristãos maior fervor espiritual. Podem crescer no temor a Deus, aproximando-se do Senhor Jesus por meio de orações, súplicas, leitura e meditação da Escritura, ainda que premidos por certas dificuldades inerentes à pandemia. O calor da provação produz neles o quebrantamento espiritual e a dependência do Senhor Jesus. Certamente precisarão ser trabalhados, visando manter o fervor espiritual mesmo depois que cessar a calamidade.   
Outros cristãos, infelizmente, poderão declinar para o esfriamento espiritual, diminuindo o zelo, a comunhão e até mesmo a fé no Senhor Jesus. Pode ocorrer que se afastem gradativamente do Evangelho, como consequência do distanciamento da vida cristã comunitária, ou ainda, que se tornem pessoas de coração endurecido, resistente e questionador, quanto ao propósito de Deus em meio a essa pandemia que tem ceifado milhares de vidas em todo o mundo. Nesses, o calor da provação gera indiferença, incredulidade e isolamento do Corpo de Cristo. Será necessário esforço para resgatar e restaurar esses crentes à comunhão dos santos.
Temos ainda, para a alegria do Senhor e satisfação da liderança, o grupo dos crentes fiéis. É formado por aqueles cristãos maduros e experimentados na fé, que não se abalam no tempo da adversidade, nem se desanimam no momento da calamidade, mas permanecem firmes e confiantes na direção e provisão que vem de Deus. Aprenderam a ter fartura e também a passar por escassez, sabem desfrutar da alegria dos ajuntamentos solenes e também enfrentar a solidão do isolamento social, pois em toda e qualquer situação o Senhor é Quem lhes fortalece. Para esses, a adversidade é momento oportuno para crescer na fé e compartilhar o amor e a salvação em Cristo a todos quantos puderem falar. Resta-nos ser gratos a Deus por esses crentes que dão o verdadeiro sabor de Cristo a essa geração.
Essas são, de modo geral, algumas das consequências espirituais que podem afetar os cristãos nesse tempo de pandemia. O que realmente vai acontecer com cada Igreja Local, somente será possível avaliar no pós-pandemia, quando for restabelecida a normalidade dos cultos e demais celebrações coletivas presenciais. Cabe a cada líder ter a sensibilidade e o discernimento necessários para compreender o que se passa no coração dos seus liderados, buscando assim suprir as carências espirituais de cada um.

O impacto emocional
Outra consequência inegável da pandemia é o impacto emocional. Não há registro na história recente de tempo como esse em que todas as pessoas ficaram confinadas em suas próprias casas, por longo período, para evitar a contaminação por uma grave doença. Esse recorte temporal deixará marcas emocionais profundas na vida de inúmeras pessoas, que foram tomadas por medo, ansiedade e insegurança, provocadas por uma série de fatores, que vão desde a pouca confiança no cuidado e proteção do Senhor, passando pela falta de orientação adequada para enfrentar esse período, até a nefasta influência de alguns setores da mídia, que diuturnamente divulgam as piores notícias possíveis sobre a pandemia, cumprindo uma agenda política.
A mensuração desse impacto emocional só será possível fazê-la também no pós-pandemia. A partir do momento em que for autorizado o retorno às atividades regulares da Igreja, a ausência de algumas pessoas poderá ser motivada por consequências emocionais provocadas pela pandemia. Não se pode menosprezar o fato de que poderão estar alimentando grande receio de fazer parte dos ajuntamentos, ainda que obedecidas rigorosamente as recomendações das autoridades públicas de saúde no interior dos templos. Será necessário tempo e acompanhamento para que restabeleçam a confiança e retornem à normalidade do convívio social em todos os seus aspectos.
Por outro lado, o conforto, a comodidade e a segurança de participar em casa das celebrações virtuais da igreja poderão concorrer para alimentar certo distanciamento do templo. É bem verdade que muitos preferem a proximidade e o contato pessoal, mas também há pessoas que se comportam de forma diferente, que consideram como suficiente os contatos virtuais e a comunicação à distância, as quais podem facilmente transferir esses conceitos para as ministrações dos cultos pela internet. Lidar com essa situação requer habilidade para comunicar os ensinos da Escritura que ressaltam a importância da comunhão pessoal entre os membros do Corpo de Cristo.   
O impacto financeiro
Outra situação que pode atingir as organizações religiosas é o impacto financeiro. É notório que no combate à pandemia, o comércio em geral foi fechado e foram totalmente suspensas inúmeras atividades públicas e privadas. Isso tem provocado a falência de milhares de empresas e a demissão em massa de milhões de trabalhadores, aumentando drasticamente o número de desempregados que perderam a sua fonte de renda. O reflexo dessa lamentável conjuntura econômica sobre as igrejas é inevitável, pois muitos crentes não poderão continuar contribuindo com dízimos e ofertas nos mesmos valores que faziam antes dessa crise.
Essa perda de arrecadação poderá afetar duramente o custeio e a manutenção das igrejas. Aquelas em que for elevado o número de membros desempregados, com a consequente redução das contribuições, poderão enfrentar várias dificuldades para honrar os seus compromissos, como prebenda pastoral, salário de funcionários, tarifas de energia elétrica, água, telefone, dentre outras. Até mesmo a existência de algumas igrejas poderá ficar comprometida, na medida em que não conseguirem levantar os recursos suficientes para pagar o aluguel do templo.
Tudo isso demonstra que será necessário reorganizar as despesas, reduzir custos e estabelecer prioridades, visando manter a continuidade e o funcionamento da instituição dentro da nova realidade financeira que se avizinha. É preciso pensar que diante dessa crise econômica anunciada, cuja gravidade e repercussão não são totalmente conhecidas, poderá ser necessário prestar assistência material a número elevado de membros e congregados, demandando volume maior de recursos financeiros para a área social.       
Por outro lado, poderá ser necessário também reformular a programação especial das igrejas, como forma de enfrentar o período de crise econômica e manter a realização de vários eventos. As atividades dispendiosas e que oneram financeiramente os membros, como viagens em grupo, encontros em hotéis e jantares em restaurantes, poderão ser substituídas por programas que sejam simples, porém agregam mais pessoas e tenham menor custo. A criatividade e a capacidade de adaptação serão imprescindíveis para superar os desafios financeiros gerados pela pandemia.
A esperança no Senhor Jesus Cristo
Enfim, a pandemia do coronavírus deixará sua profunda cicatriz na história da humanidade, criando um novo tempo em que nada na sociedade poderá ser como antes. As consequências sociais e econômicas geradas pelas medidas restritivas de combate à pandemia certamente lançarão seus reflexos sobre a existência e o funcionamento de diversas igrejas em nosso país. Resta-nos diante dessa calamidade, rogarmos ao Senhor da Igreja para que ajude os membros do Corpo de Cristo a enfrentar as dificuldades com paciência, fé e esperança, na certeza de que o Senhor Jesus Cristo sempre tem o melhor para os seus escolhidos.