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terça-feira, 28 de maio de 2013

CGADB - JOSÉ WELLINGTON: uma entrevista deprimente


Pastor Geremias do Couto

Esperava outra postura do presidente da CGADB, reeleito para mais um termo de quatro anos, em sua entrevista concedida à Folha de São Paulo, publicada neste sábado. A linguagem, a forma de abordar, as alfinetadas, a predominância do discurso político, o emprego de vocábulos vulgares, como "goró", "troço", "doido" etc., para quem ocupa o cargo máximo da denominação, tudo isso me revela outro pastor José Wellington, não aquele que conheço há muitos anos e com quem convivi por bastante tempo, enquanto estive ligado à CPAD e ocupei cargos na CGADB. Ou talvez eu me tenha enganado.
 
Peço licença uma vez mais ao jornalista Reinaldo Azevedo para usar o seu formato vermelho e azul na análise que faço a seguir dos tópicos mais polêmicos da entrevista. As respostas do presidente reeleito ao jornal estão em vermelho e estão transcritas da forma como foram publicadas pelo jornalista, inclusive com os erros de concordância. Eu vou de azul.

"O Feliciano é novo, jovem, inteligente e eu creio que vocês são inteligentes, vocês estão vendo que ele está querendo tirar proveito. Ele é político, está querendo tirar proveito desse troço. Ele está dando corda na coisa. O Marco Feliciano, bobo ele não é."

"Agora, eu acredito que há uma exploração, há uma exploração muito grande do pessoal do lado de lá [críticos de Feliciano]. A verdade é essa: nós estamos juntos da Igreja Católica. Porque a Igreja Católica não aceita. O que nós não aceitamos a Igreja Católica não aceita."

"Um bispo de São Paulo me telefonou e disse: "Pastor, vamos fazer uma dobradinha, temos de marchar juntos porque não aceitamos". Eles não aceitam aborto, casamento de pessoas do mesmo sexo. Eu vi ontem na imprensa no Amazonas um juiz deu uma liminar para que o camarada lá casasse com duas mulheres. Negócio de doido, né? Só no Amazonas dá um troço desse."

"Nós, da Assembleia de Deus, não participávamos da vida política do país. Só depois, quando eu assumi a presidência... Porque eu em janeiro agora completei 25 anos na presidência da Convenção Geral, fui reeleito nove vezes. Quando eu cheguei, com o crescimento da Assembleia de Deus, eu entendi que precisávamos colocar alguém para nos representar. E isso foi feito. Hoje temos 28 deputados federais 'assembleianos'. No total, são 80 os parlamentares evangélicos em Brasília [de diferentes denominações]."

"O Marco Feliciano... Ai, não foi porque ele é evangélico, foi um acordo do partido. Destinaram aquilo para o PSC. Coube ao Marco Feliciano e ele abraçou. Como ele antes de ser presidente dessa comissão havia feitos alguns pronunciamentos... Nós não aceitamos o comportamento dessa gente, mas não os perseguimos. Não temos qualquer preconceito com eles. Absolutamente nada. É que o grupo que está apoiando essa gente, balizou, aqui no Congresso, algumas leis que estão dando muito, muita força para essa gente, e dizem que o preconceito é nosso. Pelo contrário, eles é que são os preconceituosos."

O presidente acerta quando diz que Marco Feliciano busca tirar proveito de toda a celeuma criada por causa de sua eleição para a presidência da CDHM. Se ele fosse pagar pelo espaço que vem recebendo na mídia todos os dias, o custo seria elevadíssimo. Com o episódio, sua reeleição está assegurada. Acerta também quando restringe a escolha do deputado para presidir a CDHM aos acordos partidários sem que tenha sido por questões de fé. Sempre defendi esse ponto.
 
Erram os que trazem a discussão para o campo religioso. Mas fica difícil explicar a contradição deste discurso com a resposta dada ao jornal O Globo, na qual afirmou considerar Marco Feliciano inteligente, mas despreparado para o cargo, que, a seu ver, deveria ser ocupado por alguém neutro. É óbvio que na sessão que votou a moção de apoio ao deputado, o presidente reeleito tentou desconversar, afirmando que não era bem aquilo que tinha falado. Mas não houve desmentido formal. Portanto, a emenda não o exime de contradição no tema.

É verdade que os valores morais são temas que interessam tanto à Igreja Católica quanto à Igreja Evangélica. Mas todos sabemos que é cláusula pétrea para o PT mexer nessas áreas, como se encontra descrito no PNDH 3 em plena execução. Juntar as forças com os bispos católicos, como pressupõe o presidente eleito, nesse combate é uma possibilidade que não pode ser descartada, a não ser por um sutil senão um pouco mais abaixo em sua entrevista. Já chego lá, no último parágrafo.
 
O que interessa agora é a repetição da mesma ofensa dirigida aos amazonenses no plenário convencional, quando tratava do mesmo assunto. O que o presidente reeleito disse lá, repetiu aqui. Veja: "Eu vi ontem na imprensa no Amazonas um juiz deu uma liminar para que o camarada lá casasse com duas mulheres. Negócio de doido, né? Só no Amazonas dá um troço desse". Precisava disso? Não foi uma alfinetada? Ele não desrespeitou apenas aos membros da Assembleia de Deus no Estado, mas a todos os amazonenses, como se todos fossem de acordo com o feito!

"Essa é uma interpretação teológica. A Bíblia, quando conta a histórica de Cã, a tradução chama de Cão, né?, é que aquele filho de Noé (eram três) quando o pai tomou uns gorós e, bêbado, se despiu, ficou caído bêbado, veio um dos filho, viu os dois, e saiu criticando, né?, outro veio, de costas, e cobriu a nudez do pai, então esse o pai abençoou e outro ele amaldiçoou. Cada um interpreta como queira. Qual foi a mudança que houve, se foi de cor, eu não sei."

"Olha, eu não sou paulista, eu sou cearense. A cor da pele não faz muita diferente não, sem dúvida nenhuma. Eu recebo o irmão pretinho, a velhinha pretinha, para mim eu tenho tanto carinho, amor e respeito quanto por qualquer outro. Acredito que essa é a posição da maioria dos pastores. Agora, ele e alguns outros pregam isso, que os negros, os africanos, são descendentes de Cão."

Aqui o presidente reeleito ficou literalmente em cima do muro, forçando um pouco a barra em favor da hipótese da cor negra ser a "maldição de Noé". Não está explícito, mas a construção da resposta enseja esse viés. Era a hora de aproveitar para dar uma resposta teológica clara, precisa, incisiva, que mostrasse que a maldição de Noé não tem nada a ver com o continente africano, como Marco Feliciano divulgou em seu twitter. Mostraria, inclusive, tratar-se de um homem teológica e intelectualmente preparado para conduzir a maior denominação do país.
 
Mas preferiu sair pela tangente, a porta mais fácil para os que não querem se comprometer. Lamentável! Estranhei também quando ele disse: "A cor da pele não faz muita diferente não" (sic). Se a cor da pela não "faz muita diferença", pode fazer alguma, é o que se deduz da resposta. E se pode fazer alguma diferença, o preconceito se revela latente. Dizer que recebe o "irmão pretinho, a velhinha pretinha" só complica as coisas, pois dá a essas pessoas uma conotação de inferioridade. Mas se "cada um interpreta como queira", então é isso aí.

"Eu vejo com muito bons olhos. Confesso a você que não votei na Dilma. Eu tinha certos resquícios do PT lá em São Paulo. Mas esta senhora tem superado [as expectativas]. Ela pegou uma caixa de marimbondo na mão, mas tem sido muito honesta com seu governo e com o povo. Hoje, na minha concepção, a candidatura dela é uma nomeação, não precisa nem ir para a eleição, ela é eleita tranquilamente."

"Eu até teria muito motivo para dizer não, mas esqueço tudo isso aí a bem do povo, ela tem sido muito correta na administração do nosso país."

[Risos] "Deixa isso pra lá. O meu concorrente [na eleição desta semana], pelas informações que eu tenho ele recebeu todo o beneplácito do Planalto. Eu não recebi, e não recebi porque também não pedi. Na nossa igreja em São Paulo nunca entrou um centavo nem da prefeitura, nem do Estado nem da nação. Nunca pedi, de maneira nenhuma. A presidenta, num ano desses, eu estava aniversariando e ela foi lá me ver, me dar os parabéns. Foi lá com quatro ministros, o Padilha e outros mais. Recebi com muito carinho, muito amor, perfeitamente. Mas não peço. Agora, entendo que, se algum dia precisar pedir, sou um brasileiro que paga imposto, tenho tanto direito quanto os demais."

Nos três parágrafos acima, o presidente responde às seguintes perguntas do repórter: Qual a sua opinião sobre Dilma? Vocês apoiam ela em 2014? Com o "PT de São Paulo" o senhor quer dizer Marta Suplicy? Todos os que conhecemos o pastor José Wellington sabemos de seu histórico antipetismo, independente da Marta Suplicy em São Paulo. Suas posturas sempre foram conservadoras e só se manifestou em favor de FHC, nas eleições em que se elegeu, porque a outra opção era o Lula.
 
É de estranhar esse açodamento em praticamente sinalizar o apoio à reeleição de Dilma Rousseff. Que razões o teriam levado a fazer essas declarações? Seria para mostrar a "força política" da Assembleia de Deus? Seria para mostrar aos possíveis candidatos que qualquer decisão nessa área terá de passar por suas mãos, diferente da eleição anterior em que o presidente de Madureira acabou sendo o protagonista? Seria um recado aos amigos do PSDB para que dobrem as suas "apostas"?
 
Por outro lado, se o outro candidato às eleições da CGADB contou com "todo o beneplácito do Planalto", como insinuou em sua resposta, que beneplácito foi esse? Foi alguma coisa ilícita, imprópria, inadequada? Por que não dar nomes aos bois? Isso me permite formular outra pergunta: teria o presidente reeleito recebido beneplácitos de outras fontes?

Finalizo.

A verdade é que a Assembleia de Deus, como instituição, não é mais a mesma. Ela entrou de cabeça no jogo político e parece que o presidente reeleito perdeu qualquer constrangimento em dar esse mergulho. Para quem afirmou que "igreja e política são como água e óleo, não se misturam", em entrevista concedida a mim logo que assumiu a presidência da CGADB em substituição ao pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos, a sua nova roupagem é de quem misturou tudo no mesmo vasilhame. Agora me digam: como apoiar a candidata de um partido que tem como cláusulas pétreas em seu programa a destruição de valores que a igreja defende? Não é contraditório? Ou haveria alguma outra razão mais forte que a própria razão desconhece?

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