Por Adiel
Teófilo.
Todo
cristão sabe que deve ser prudente no falar, porém todos nós tropeçamos em
muitas coisas, principalmente no uso da língua. “Se alguém não tropeça em palavra, o tal é
perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.” (Tiago 3.2). E nessa
matéria, quem é perfeito? Quem é capaz de dominar a própria língua? A verdade é
que, não raras vezes, falamos além da conta, dizemos o que não convém e o que não promove
a edificação de quem ouve.
Isso ocorre porque o fato de alguém se tornar cristão não significa dizer que ganhou instantaneamente
a virtude do domínio da língua. É preciso se exercitar na prudência e sobretudo
aprender a se submeter ao domínio do Espírito Santo. Porque até mesmo entre
cristãos se verifica a falta do amor fraternal, que é externado na maneira afável
de falar e de tratar um ao outro. Esse mesmo problema ocorreu nas igrejas da
Galácia: “Porque toda a lei se cumpre
numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém,
vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos
outros.” (Gálatas 5.14-15).
Aquele
que não consegue dominar a sua língua, acaba subjugando todo o seu corpo ao que
diz. A Escritura nos mostra, de maneira ilustrada, a força desse domínio e os
resultados que produz na vida do ser humano. Ensina-nos que o freio colocado na
boca dos cavalos é capaz de dirigir todo o seu corpo; e as grandes embarcações,
levadas por ventos impetuosos, são guiadas por um bem pequeno leme, virando-se
para onde bem quer a vontade daquele que as governa. “Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes
coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. A língua também é um
fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e
contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo
inferno.” (Tiago 3.3-6).
A
Palavra de Deus nos mostra ainda, que as feras do campo, as aves, os repteis e os
animais marinhos, são amansados e domados pelo ser humano, “mas nenhum homem pode domar a língua. É um
mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.” (Tiago 3.8). Diante disso, a força suficiente para conter a língua e a
habilidade necessária para o seu uso correto, somente são adquiridas mediante a
ação controladora do Espírito Santo, quando humildemente nos submetemos à sua direção. Ele atua
diretamente na natureza humana, fazendo cessar as “obras da carne” (Gálatas 5.19-21), e produzindo o fruto do
Espírito, que nos capacita ao pleno exercício da virtude do “domínio próprio” (Gálatas 5.22).
Outra
grande dificuldade que temos é de guardar segredo. Existem determinados
assuntos que não devem ser revelados, pois nem todos têm maturidade para
conhece-los ou não conseguem manter o sigilo. Há também assuntos que convém ser
comentados somente em momento oportuno. Por essas e outras razões é que o
domínio da língua torna-se indispensável na vida do cristão.
A Bíblia
Sagrada contém relatos de personagens que não preservaram seus segredos, os
quais sofreram com as consequências de suas atitudes. José contava a todos os seus irmãos tudo que sonhava, “por isso ainda
mais o odiavam por seus sonhos e por suas palavras.” (Gênesis 37.8). Movidos por ódio e inveja, seus irmãos passaram a
persegui-lo, chamando-o de “sonhador-mor”.
Por fim conspiraram matá-lo, porém o venderam como escravo para mercadores ismaelitas,
que o levaram para o Egito (Gênesis 37).
Outro
personagem é Sansão, que não
resistiu aos apelos de uma mulher e acabou revelando seu segredo. O Espírito do
Senhor se apossava dele tão poderosamente e o dotava de grande força, tornando-o
capaz de despedaçar um leão como se fosse um cabrito, sem ter nada nas mãos (Juízes 14.6). Sansão se afeiçoou a
Dalila. Os príncipes dos filisteus ofereceram a ela uma boa soma em dinheiro
para descobrir em que consistia aquela grande força e como poderia ser dominado.
“E sucedeu
que, importunando-o ela todos os dias com as suas palavras, e molestando-o, a
sua alma se angustiou até a morte. E descobriu-lhe todo o seu coração...”
(Juízes 16.16-17).
E assim, de posse do segredo, Dalila o fez dormir sobre os seus
joelhos e mandou rapar-lhe as sete tranças do cabelo de sua cabeça, retirando-se
dele a sua força. “E disse ela: Os
filisteus vêm sobre ti, Sansão. E despertou ele do seu sono, e disse: Sairei
ainda esta vez como dantes, e me sacudirei. Porque ele não sabia que já o
SENHOR se tinha retirado dele.” (Juízes 16.20). Desse modo, o entregou nas
mãos dos filisteus, que lhe arrancaram os olhos e o amarraram com duas cadeias
de bronze, fazendo-o girar um moinho no cárcere.
Temos
ainda o caso de Ezequias, Rei de Judá. Ele
adoeceu mortalmente, mas depois de orar, suplicar e chorar muitíssimo, o SENHOR
o sarou. O rei de Babilônia, ao tomar conhecimento que ele tinha estado doente,
enviou-lhe cartas e um presente. Ezequias recebeu com alegria os embaixadores “e lhes mostrou
toda a casa de seu tesouro, a prata, o ouro, as especiarias e os melhores unguentos,
e a sua casa de armas, e tudo quanto se achou nos seus tesouros; coisa nenhuma
houve que não lhes mostrasse, nem em sua casa, nem em todo o seu domínio.” (II
Reis 20.13 e II Crônicas 32.31).
E qual foi a consequência desse excesso de confiança?
Assim sentenciou o SENHOR ao Rei Ezequias, por intermédio do Profeta Isaías: “Eis que vêm dias em que tudo quanto houver
em tua casa, e o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado a
Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o SENHOR.” (II Reis 20.17 e Isaías
39.6).
Portanto,
precisamos aprender a guardar segredo, bem como falar apenas o que convém e na medida
certa, para não sofrermos com as consequencias. E a melhor forma de desenvolver esse aprendizado é compartilhar nossos
segredos com Deus, por meio da oração reservada, sem exibição pública, tal como
nos ensinou Jesus Cristo: “Mas tu, quando
orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está
em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.”
(Mateus 6.6). E assim, somente com a Graça
de Cristo e o fruto do Espírito deixaremos de ser crentes linguarudos!
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