É oportuna uma reflexão sobre a última assembleia geral da CGADB ocorrida aqui em Brasília. Transcorridos mais de dois meses, creio que os ânimos já se arrefeceram, tanto daqueles que defenderam mais uma reeleição, aos gritos: “vota no velhinho porque ele sabe o que faz”, quanto daqueles que apoiaram o seu único concorrente.
A CGADB foi criada em 1930, aproximadamente 19 anos depois da fundação das Assembleias de Deus no Brasil. A sua principal missão era de congraçar pastores e traçar estratégias missionárias, não de intervir no funcionamento das igrejas, nem se envolver com atividades estranhas aos seus fins. Durante 58 anos de sua existência, de 1930 a 1988, a CGADB teve 17 presidentes, que se alternaram por períodos de 3 anos em média. Atuaram no sentido de cumprir as finalidades da instituição, que embora não sendo uma igreja, possui natureza religiosa, como previsto no seu próprio estatuto.
Depois
desse período a situação mudou muito. Desde 1988 a CGADB tem um único presidente, que a
cada assembleia geral vem fazendo muito esforço para se manter no posto. Basta
observar que nas últimas reeleições, articulações políticas internas visando a sua perpetuação
na presidência, como exemplo a exclusão disciplinar do seu concorrente, acabam sendo discutidas
no Poder Judiciário, para nossa vergonha, pois “o irmão vai a juízo com o irmão, e isso perante infiéis. Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes
demandas uns contra os outros.” (I Coríntios 6.6-7).
O
último resultado das urnas confirma o quanto tem sido acirrada essa disputa. O
presidente da CGADB foi reeleito com 54,9% dos 16.410 votos válidos, contra
45,1% dos votos para o seu concorrente. A diferença entre ambos é de menos de
10% dos votos. A realidade mostra um “cabo de guerra”, aquela corda em que os
concorrentes puxam para lados opostos: de um lado, o grupo que a todo custo
quer se manter no poder, e de outro, líderes e pastores insatisfeitos que clamam por mudanças votando contrariamente à reeleição.
Se a corda não se romper, o mais forte acaba vencendo. É esperar para ver!
Mas
as articulações ocorrem também externamente, com envolvimento direto na política
partidária. E aqui está o lado mais deprimente da disputa pelo poder! Logo após
a reeleição, o presidente concedeu entrevista ao Correio Braziliense, publicada no Caderno de Política do dia 13 de
abril de 2013. Os jornalistas destacaram o paradoxo entre as afirmações do presidente reeleito:
“afirma ser contra a mistura de igreja e
política e, paradoxalmente, defende o fortalecimento do braço parlamentar da
Assembleia de Deus nas eleições de 2014”.
Vamos
conferir alguns trechos da entrevista. Perguntado se teria uma convenção para
decidir qual candidato a Assembleia de Deus irá apoiar, ele respondeu: “Com certeza. Nós nos reuniremos e iremos estudar qual será
para nós o candidato mais viável. Se a eleição fosse hoje, a presidente estaria
reeleita tranquilamente. Não seria nem
uma eleição, é uma nomeação, uma maioria tremenda”. Ele está tão acostumado
com o poder, que a convenção para escolher qual candidato apoiar sequer foi
realizada, mas antecipou seu apoio para dizer que a presidente
não precisa nem de eleição, "é uma nomeação".
Indagado como a igreja irá se posicionar nas eleições presidenciais
em 2014, quanto a temas de cunho religioso como legalização do aborto,
respondeu: “Nós
ainda não convencionamos este assunto. Eu, pessoalmente, olho com muita
simpatia o governo da nossa presidente. Ela
tem se portado com uma decência muito grande”. É
uma lástima que o líder da instituição que representa as Assembleias de Deus no
Brasil não tenha uma posição bíblica sobre o assunto, mas se derramou em elogios
por uma dirigente política, que representa um partido cujo programa não se
importa em destruir valores que a igreja defende. E tantas convenções já foram
realizadas para discutir sua própria reeleição! Será que durante mais de 25
anos de mandato não teve tempo suficiente para debater temas relevantes para a nação?
O
jornalista disse sobre a existência de “quase
que um braço político das igrejas evangélicas e da Assembleia de Deus atuando
no Congresso...”, ao que o presidente argumentou sem qualquer escrúpulo: “Na verdade, não existe quase, existe um braço. Eu entendi que nós precisávamos ter na
Câmara Federal uma representação relativamente grande da igreja. Temos
interesses a serem cuidados”. Ora, que interesses são esses? Interessam apenas
ao Reino de Deus? Observe que não foi Deus quem orientou,
mas ele mesmo foi quem entendeu que
a igreja precisava ter representação na Câmara Federal.
E
isso ele confirmou na entrevista concedida à Folha de São Paulo: “Nós, da
Assembleia de Deus, não participávamos
da vida política do país. Só depois, quando eu assumi a presidência...
Porque eu em janeiro agora completei 25 anos na presidência da Convenção Geral,
fui reeleito nove vezes. Quando eu cheguei, com o crescimento da Assembleia de
Deus, eu entendi que precisávamos
colocar alguém para nos representar. E isso foi feito. Hoje temos 28 deputados
federais assembleianos”. Por favor, avisem ao presidente
que o cristão não deixa de ser cidadão e participa da vida política
do país por meio do voto! A missão da Assembleia de Deus como Igreja é que é outra:
pregar o Evangelho! Não trabalhar para eleger políticos!
Esse
desvirtuamento da finalidade essencial da igreja vem causando inúmeros
prejuízos. O jornalista do Correio Braziliense perguntou: “Durante o processo de eleição do presidente da Assembleia
(Legislativa), a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC) afirmou ter sido apresentada à
sociedade, levada a templos, durante os cultos, e que esta seria a prática da
Assembleia de Deus em todo o Brasil. Isso de fato acontece?”. E o presidente respondeu a mais pura "verdade": “Se, no estado dela, alguém procedeu assim, procedeu de
maneira diferente aos costumes da Assembleia de Deus. É normal que nossos
candidatos tenham seus nomes divulgados. É muito natural que ele distribua
santinho, mas da porta pra fora. Agora, do
púlpito, levar para apresentar, fazer política do púlpito, isso para nós é uma
anomalia”.
É mesmo uma anomalia! Como esse mal
tem se alastrado e contaminado as Assembleias de Deus. Muitos candidatos e políticos
eleitos têm espaço garantido em diversos púlpitos, por mais imunda que seja a sua ficha. Até cultos e pregações da Palavra de Deus são interrompidos para dar
primazia aos políticos, que fazem sim campanha eleitoral dos púlpitos e pedem voto durante cultos e reuniões de Obreiros, profanando locais consagrados e contrariando a legislação eleitoral. A
própria CGADB dá o mau exemplo ao colocar políticos declaradamente não evangélicos em locais reservados aos ministros evangélicos. Parece que a anormalidade não está tão longe de quem a
condena. O Senhor Jesus adverte: "Hipócrita, tira
primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do
teu irmão" (Mateus 7.5).
Enfim,
convém refletir até onde vai essa politicagem medíocre. Será que vale a pena sacrificar os fins essenciais das entidades religiosas para atender projetos pessoais de poder? Saiba que no estatuto
da CGADB (disponível em www.cgadb.com.br), não consta dentre as suas
finalidades eleger representantes políticos. Aliás, o que precisa ser feito é “orientar a prática da cidadania dos seus
membros”, tal como consta no art. 3º, inciso X, do estatuto. O mais é flagrante desvio de finalidade. É embaraçar as Assembleias de Deus com negócios desta
vida. Afinal a Igreja do Senhor Jesus foi
chamada para levar o Poder de Deus aos homens, não para conduzir homens ao
poder deste mundo.
Redes sociais. O grande quebra cabeça dos monarcas eclesiásticos.
ResponderExcluir19/01/2019 12:32
Caros irmãos em Cristo.
Vocês já devem ter percebidos que as redes sociais juntamente com os aplicativos de comunicação estão incomodando em muito as denominações evangélicas. Os líderes evangélicos no seu sono profundo, dopados pela ganância ao dinheiro, não sonharam com este adversário poderoso que está dando voz àqueles que antes não tinham voz. Estes homens, que se apoderam da Igreja de Cristo e fizeram dela o seu reinado absoluto, não contavam que esta tecnologia poderosa que diminui as distâncias, quebra as barreiras e acaba com os cochichos nos corredores nos conluios e nas reuniões de porta fechada.
Eu comparo os tempos de hoje com os tempos dos cristãos primitivos que enfrentaram o poder de Roma com a pregação e aceitação do evangelho de Cristo. Tanto Roma quanto a Judeia, dominadas politicamente e ideologicamente de um lado por César e por outro lado pelas ideias do Saduceus e Fariseus, não contavam com o surgimento de outra forma de pensamentos que os desafiariam a ponto de acabar com os seus regimes. Nenhum método aplicado por Roma e pelos sacerdotes judeus na época foi eficaz para destruir o poder do evangelho e segurar o crescimento da Igreja. Derrotados, tiveram que aceitar e se adaptar ao “novo” e até mesmo se “converterem” ao Cristianismo.
Revolução semelhante está em vigor na igreja atual por conta das redes sociais, onde os monarcas e senhores feudais que se apossaram da Igreja já estão atordoados com o impacto e o poder desta nova forma de expressão. As ditaduras eclesiásticas já não têm mais o poder absoluto nas mãos; uma vez que as opiniões, antes recrutas nos conluios dissimulados e mediáticos ou nos parlatórios templários, hoje ficam registradas ao mesmo tempo em que são multiplicadas e viralizadas nas redes em questões de segundos; antecipando toda e qualquer atuação de combate e amortização dos seus efeitos. Um exemplo deste poder foi a recente eleição de um candidato que se elegeu presidente da república sem fazer campanha no rádio e na TV, utilizando-se somente das redes sociais.
Os monarcas eclesiásticos não contavam com este grande adversário que dá voz aos pequenos e os deixam falar; ainda que para um interlocutor ou público desconhecido que nada poderá fazer por ele. Não contavam com a união das pessoas de bem que não são autômatos e que todos os dias saem em grupos remanescentes e esclarecidos desta “matrix” estabelecida pelos poderosos, para fazer valer o significado da palavra Igreja: aquela que sai para fora! (...) aquela que sai para i IDE do Senhor!... e não para o vinde dos homens.
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