Pr. Adiel Teófilo.
O uso de tatuagens tem se
multiplicado entre aqueles que se declaram cristãos evangélicos. Essa prática
tem dividido opiniões e frequentemente surgem dúvidas se o cristão pode ou não
fazer uso de tatuagens. A busca de resposta definitiva para essa questão não é tarefa
fácil à luz da Bíblia Sagrada. Além das divergências de opiniões há também diferentes
interpretações das Escrituras, influenciadas pelo liberalismo teológico e
outras tendências da pós modernidade que tentam menosprezar a autoridade de
Deus em relação à santidade do corpo.
O Preceito da Lei de
Deus sobre tatuagens
O versículo das Sagradas
Escrituras mais antigo sobre o tema encontra-se em Levítico 19.28, Livro
escrito por Moisés, por volta de 1445 a.C., que assim diz na versão Almeida,
Revista e Atualizada: “Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis
marca alguma sobre vós; Eu sou o SENHOR”. Na versão Almeida, Revista e
Corrigida diz: “Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne”; o
restante do versículo é idêntico à outra versão.
Importante destacar que esse versículo
faz parte do conjunto de normas e preceitos que o próprio Deus outorgou aos
filhos de Israel. Isso aconteceu por intermédio do Profeta Moisés, que compilou
a Torá (Lei), os cinco primeiros livros da Bíblia, também denominados de
Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
O propósito de Deus ao
estabelecer os preceitos da Lei para Israel era de constituir para Si um povo
santo, separado das nações pagãs que habitavam a região da Palestina. Observe
que o próprio SENHOR deixou muito claro essa distinção entre os povos: “Fala
a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: santos sereis, porque
eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo.” (Levítico 19.2).
Naquele tempo em que os
Hebreus saíram do Egito sob a liderança de Moisés, as mutilações e as tatuagens
já eram práticas comuns entre os povos pagãos, dentre outros costumes que não
honravam e nem agradavam ao SENHOR. Por essa razão é que foi outorgada a Torá,
contendo princípios morais imutáveis da Lei de Deus, para que houvesse
diferença entre o povo escolhido por Deus e as nações que praticavam idolatria,
feitiçaria, imoralidade, e todo tipo de iniquidade e abominação aos olhos de
Deus.
A origem das tatuagens
O uso de tatuagem não é uma
criação contemporânea, mas uma prática muito antiga na humanidade. Não foi
criada entre o povo escolhido por Deus que saiu do Egito, mas se originou entre
povos pagãos da antiguidade. É bem verdade que existem atualmente inúmeras
formas, cores e modelos de tatuagens, bem como modernos equipamentos destinados
a essa prática que obviamente não existiam antigamente, porém a essência desse
ritual remonta a um passado distante na história, como bem ilustra o texto
abaixo, extraído da Wikipedia:
Existem muitas
provas arqueológicas que afirmam que tatuagens foram feitas no Egito entre 4000 e 2000
a.C. e também por nativos da Polinésia,
Filipinas, Indonésia e Nova
Zelândia (maori), tatuavam-se em rituais ligados a religião. Os Ainu,
um povo indígena do norte do Japão, tradicionalmente tinham tatuagens faciais, assim como os austro-asiáticos. Hoje, pode-se encontrar em diversas etnias espalhadas pelo mundo o
costume de se utilizar tatuagens faciais, entre estes povos tem se os berberes do Norte da África, os iorubas, os fula e hauçás da Nigéria e os maoris da Nova Zelândia.
Múmias
tatuadas foram recuperadas de pelo menos 49 sítios arqueológicos, incluindo
locais na Groenlândia, no Alasca, na Sibéria, na Mongólia, no oeste da China, no Egito, no Sudão, nas Filipinas e nos Andes. Estes incluem Amunet, Sacerdotisa da Deusa Hathor do antigo Egito
(c. 2134-1991 aC), múltiplas múmias da Sibéria, incluindo a cultura Pazyryk da
Rússia e de várias culturas em toda a América do Sul pré-colombiana. Em
2015, a reavaliação científica da idade das duas mais antigas múmias tatuadas
conhecidas, identificou Ötzi como o exemplo mais antigo atualmente
conhecido. Este corpo, com 61 tatuagens, foi encontrado embutido em gelo
glacial nos Alpes, e datado de 3.250 a.C.
Disponível em:
< https://pt.wikipedia.org/wiki/Tatuagem >. Acesso em: 07 Abr 2024.
O relato acima demonstra que
as tatuagens surgiram entre povos pagãos da antiguidade, especialmente entre os
egípcios, nação de onde Deus tirou os filhos de Israel e lhes deu claras
instruções para que não seguissem as mesmas práticas e costumes, e nem a
cultura daqueles povos que não se voltaram para o SENHOR.
As Leis sobre padrões de
comportamento para o povo de Israel
Os capítulos 18, 19 e 20 de
Levítico devem ser analisados em conjunto, pois registram leis que
estabelecem padrões de comportamento que os israelitas deveriam observar
fielmente, a fim de não se contaminarem com as práticas do paganismo rejeitadas
pelo SENHOR. E os preceitos da Lei foram muito claros nesse sentido, porque os
padrões do povo de Deus não poderiam ser ditados pelas práticas do Egito e nem
de Canaã, mas ensinados pelo próprio SENHOR:
Não
fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis
segundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem
andareis nos seus estatutos. Fareis segundo os meus juízos, e os meus estatutos
guardareis, para andardes neles: Eu sou o SENHOR vosso Deus. [...]
Portanto
guardareis a obrigação que tendes para comigo, não praticando nenhum dos costumes
abomináveis que se praticaram antes de vós, e não vos contamineis
com eles: Eu sou o SENHOR vosso Deus.
(Levítico
18.3, 4 e 30) (grifamos)
O texto aponta obras, costumes
e práticas que não devem ser imitadas por aqueles cujo Deus é o SENHOR. No capítulo
18.6 a 23 estão relacionadas práticas sexuais abomináveis condenadas pelo
SENHOR, com exceção do versículo 20, que trata de prática religiosa
também rejeitada por DEUS, que era o culto a Moloque, divindade Amonita que
envolvia sacrifício de crianças, conforme capítulo 20. 1 a 5.
O capítulo 19, cujo versículo
28 fala sobre tatuagens, contém diversos preceitos relacionados com a vida
cotidiana, e o capítulo 20 descreve outras condutas e práticas sexuais
também abomináveis, condenadas pela Lei de Deus. Interessante observar que
assim diz o SENHOR ao seu povo na parte final do capítulo 20 de Levítico:
Não andeis nos costumes da gente
que eu lanço fora de diante de vós, porque fizeram todas estas cousas; por isso
me aborreci deles. Mas a vós outros vos tenho dito: em herança possuireis a sua
terra, e eu vo-la darei para a possuirdes, terra que mana leite e mel: Eu sou o
SENHOR vosso Deus, que vos separei dos povos.
[...]
Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR,
vosso Deus, sou santo, e separei-vos dos povos, para serdes meus.
(Levítico 20.23, 24 e 26) (grifo nosso)
Nesse contexto, constata-se que o propósito de Deus foi estabelecer notória diferença de práticas e costumes entre o SEU POVO e os povos entregues ao paganismo, devendo aqueles que se dizem servos do SENHOR observar em sua vida cotidiana os preceitos e juízos estabelecidos por Deus, para que possam desfrutar de todas as bençãos prometidas ao seu povo.
A proibição de fazer qualquer
marca sobre o corpo
Analisando com mais
profundidade Levítico 19.28, transcrito no início, podemos compreender
que a primeira parte se constituiu numa clara proibição, emanada do próprio SENHOR
e direcionada ao povo escolhido para servir e adorar a Deus: não deveriam
ferir para fazer cicatriz e nem golpear para mutilar qualquer parte do corpo,
seja a fim de homenagear alguém que morreu ou mesmo com a finalidade de expressar
a dor pela morte de um ente querido.
A segunda parte do versículo contém
uma proibição bem mais ampla que a primeira antes comentada. Conforme o texto
sagrado não é permitido ao povo escolhido fazer nenhuma marca sobre o corpo.
Nessa expressão “marca”, compreende-se sinal, desenho, inscrição ou coisa
semelhante dentre as formas de tatuagens então existentes. Observe que todas as
espécies de marcas são proibidas, qualquer que seja a sua finalidade, como por
exemplo adorno, homenagem a alguém ou identificação de grupo, tribo ou nação.
O versículo se encerra
ressaltando a soberania do SENHOR sobre o povo que O serve: “Eu sou o
SENHOR”. Essa expressão é repetida mais de vinte vezes nos capítulos 18, 19
e 20 de Levítico. Esse Senhorio não se referia apenas ao povo em conjunto como
nação escolhida, mas também individualmente sobre o corpo de cada um deles, que
deveria ser consagrado ao SENHOR, sem marcas, sinais, mutilações ou coisas
semelhantes. A marca que os identificaria a partir de então era a aliança com o
SENHOR mediante a obediência à Sua Lei, fazendo assim a diferença entre o SEU
POVO e as demais nações da terra.
O Senhorio de Deus sobre o corpo do cristão
Sabe-se que no Novo Testamento não há proibição
expressa contra marcas e tatuagens no corpo, tal como encontramos em Levítico
19.28. No entanto, devemos considerar que não há ruptura entre os dois
Testamentos, prevalecendo vigentes todos os princípios morais da Lei de Deus. O
Novo não revogou nem aboliu o Antigo Testamento, mas ambos formam a Unidade da
Revelação de Deus aos homens. Tanto é que o próprio Senhor Jesus disse que não
veio para revogar a lei ou os profetas, mas para cumpri-los (Mateus 5.17 a
19).
Além do mais, continuam presentes no Novo
Testamento a mesma soberania e o mesmo zelo do SENHOR sobre o corpo físico
daqueles que se renderam ao Senhorio de Cristo, tornando-se filhos de Deus
mediante a fé no Senhor Jesus. Esse Senhorio de Cristo se revela na santidade que
o Espírito Santo manifesta em relação ao corpo daqueles que pertencem a Deus. O
Apóstolo Paulo, ao advertir contra a frouxidão moral e a favor da santidade do
corpo, assim escreveu:
Ou não sabeis
que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso
espírito, os quais pertencem a Deus.
(I Coríntios
6.19 e 20) (grifamos)
E que consenso
tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente,
como Deus disse: neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e
eles serão o meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos,
diz o SENHOR; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei
para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o SENHOR
Todo-poderoso.
(II Coríntios
6.16 a 18) (grifo nosso)
Percebe-se
por meio desses versículos a vigência e atualidade daquele mesmo princípio
moral instituído pelo SENHOR através da Lei de Moisés: deve existir notória separação
de práticas e costumes do povo de Deus em relação ao comportamento daqueles que
não servem ao SENHOR. Porquanto, não há harmonia entre Cristo e o maligno,
nem união do crente com o incrédulo, e nem ainda ligação entre o santuário de
Deus e os ídolos (II Coríntios 6.15 e 16).
Diante dessas verdades Bíblicas, surgem algumas
indagações para reflexão de todo cristão: qual a finalidade de fazer tatuagem
no corpo? Isso glorifica a Deus no corpo? Antes de fazer tatuagem, o SENHOR do
corpo foi previamente consultado? Qual a origem e o significado da marca que
será gravada no corpo, honrará a Deus ou tem ligação com o paganismo?
A
proliferação das tatuagens na sociedade contemporânea
Na atualidade parece normal
encher o corpo de tatuagens, entretanto muitos cristãos não sabem a origem e
nem sequer o significado daquilo que está marcando o seu corpo. Outros
homenageiam os pais e pessoas da família e até mortos tatuando os seus nomes,
tatuam lemas de vida, frases de efeito, palavras ou versículos Bíblicos, além das
mais variadas figuras e ilustrações como ornamento. E o Espírito Santo, será
que se alegra e não se sente incomodado com essa iniciativa? Como fica a
distinção de costumes do Povo de Deus?
E assim as pessoas vão se
acostumando cada vez mais com marcas e inscrições no corpo. Certamente muitos não
terão a menor dificuldade em aceitar uma nova marca mundial, convencidos pela
propaganda dos vários benefícios que o sinal representará para o conforto,
comodidade e segurança nas transações comerciais cotidianas. Outros poderão
estar despercebidos e facilmente vão abrir mão da liberdade de escolha, sem
fazer qualquer questionamento e nem se importar com as consequências em receber
esse novo sinal.
Até parece que a sociedade vem adotando
comportamento que se constitui verdadeira preparação para o governo do
anticristo na terra. Chegará o tempo em que todos serão obrigados a aceitar o
sinal ou marca da besta, sem o qual ninguém poderá fazer qualquer negócio, mesmo
uma pequena compra no comércio da esquina. Assim diz a profecia Bíblica:
E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos
e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas
suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o
sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. (Apocalipse 13.16 e 17)
Infelizmente, quem receber
essa marca não terá a bênção de Deus. Pelo contrário, sofrerá a condenação
eterna, por se subjugar a um governo que se levantará contra o FILHO DE DEUS.
Assim nos adverte a Bíblia Sagrada:
E
seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e
a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também este
beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua
ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do
Cordeiro. E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso
nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que
receber o sinal do seu nome. (Apocalipse 14.9-11) (grifei)
Enfim, muitas coisas são lícitas perante os homens, porém
nem todas convém ao povo de Deus realizar. Há inúmeras práticas e costumes que
são aprovados pela sociedade, todavia os filhos do SENHOR devem reprová-los,
adotando o padrão de comportamento estabelecido nas Sagradas Escrituras, fazendo
notória a distinção daquele que serve ao SENHOR.