Por Manoel dC.
Não
existe Evangelho verdadeiro nem igreja genuína sem simplicidade. Para
justificar tão radical assertiva, focalisei o olhar para nosso líder maior,
Jesus de Nazaré (alocado nessa cidade menosprezada no norte da Palestina,
situada na desprezível região da Galiléia) e seu nascimento em um curral em
Belém da Judéia, na mais extrema pobreza.
Jesus
era simples e seus seguidores deveriam ter a imagem da simplicidade gravada em
suas vidas, como reflexo de seu Mestre maior. Ele mesmo chegou a dizer: “As
raposas tem seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem
onde reclinar a cabeça”.
Sem
teto, sem cama e sem travesseiro, Jesus nos mostra o caminho da modéstia e da
liberdade plena na simplicidade, quando asseverou que os pobres de espírito, e
não os ricos presunçosos ou os líderes detentores do poder religioso são os que
se depararão com os portões do céu escancarados e entrarão no Reino dos Céus
pelas portas.
Isso
nos remete ao fato de quão pretensiosos somos quando insistimos em exibir uma
vida consumista, ou buscamos um estilo de vida burguesa locupletada de luxo e
excessos. Quando agimos assim, é claro, estamos mostrando ao mundo o quão
distantes estamos do padrão bíblico de simplicidade defendido por Jesus em
palavras e ações concretas.
Quando
despediu setenta de seus discípulos em uma missão evangelística, Jesus
recomendou que cada missionário deveria levar uma marca identificadora em cada
lugar por onde ia: a urgência da missão leva à simplicidade despojada, que não
se deixa atrelar a nada nesse mundo: “Não
leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, comei de tudo que vos oferecerem...”.
Ele
disse com todas as letras para não acumularmos tesouros na terra e sim, nos
céus. Ou seja, com tudo isso Jesus nos ensina que em nossa peregrinação por
esse mundo, não há tempo pra acumular bens ou criar impérios pessoais, pois
somos peregrinos de passagem, nosso evangelho é maltrapilho (Brennan Manning
que o diga) e nosso coração é de peregrinos despidos de ganância, arraigados somente
à vocação para as alturas, para as coisas lá do alto, de onde provém nossa
verdadeira cidadania.
Jesus
via a igreja como um organismo latejante, cheio de vida pulsando dentro de um
corpo, ou como uma família aconchegante com seus membros entrelaçados pelos
vínculos indissolúveis do amor, e não como uma construção fria, um prédio de
proporções anômalas cheio de líderes poderosos e membros eternamente
dependentes emocionais dos profissionais da fé.
Jesus
disse que é mais fácil um camelo entrar pelo fundo de uma agulha do que um rico
entrar no Reino dos Céus. A mesma regra hermenêutica se aplica ao contexto da
igreja. EM JESUS NÃO HÁ TOLERÂNCIA PARA A RIQUEZA OSTENSIVA. Os ricos, porém,
podem ser salvos, SE cultivarem um verdadeiro coração peregrino, destituído de
ganância e demonstrarem uma disposição cheia da generosidade que se dá
incondicionalmente.
A
riqueza ostensiva foi a causa da reprimenda severa que Jesus fez ao pastor e à
igreja de Laudicéia no livro de Apocalipse. O pastor daquela igreja dizia com
arrogância: “Estou
rico e abastado e não preciso de coisa alguma”. Jesus,
nauseado com tanta hipocrisia, arranca-lhe a máscara e responde: “Porque
és morno, e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te de minha boca”. Aí Ele
lança o arremate final: “E tu
nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu".
Infelizmente,
esse é o triste quadro que vemos hoje. Catedrais
suntuosas, pastores vendidos, exibicionistas, líderes soberbos incorrigíveis,
vampiros insaciáveis.
Esses Sistemas
humanos engendrados pela ganância irrefreável, totalmente distanciados do
modelo original proposto pelo Evangelho,com toda certeza hão de receber as
mesmas palavras de Jesus como duro veredicto: Igrejas
ricas e abastadas! Mas pobres, Infelizes, cegas e nuas!
Jesus
quando fundou Sua igreja disse: “edificarei minha igreja,” e Paulo conceituando
igreja, disse que a igreja era coluna e baluarte da verdade. Infelizmente,
muitos seguiram o texto ao pé da letra, pensando em edificações literais, construíram
impérios e conglomerados da fé, esquecidos do projeto primordial das singelas
reuniões de gente simples, das famílias alegres, partindo o pão de casa em
casa, bem antes do imperador construir seus templos magnificentes.
Hoje
temos milhões de igrejas, mas pouquíssimas são realmente libertas pela
simplicidade. Jesus, o Senhor da igreja, O homem simples por excelência, sempre
fugia de toda forma de publicidade ou marketing de Si mesmo. Esse sim, deve ser
imitado e seguido.
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