Por Hermes C. Fernandes
Que vergonha! Fomos adestrados pelo sistema.
Vendidos ao capital. Transformados em lubrificante das engrenagens políticas.
Somos qualquer coisa, menos protestantes. Nem sei se somos realmente cristãos.
Em vez de subversivos, tornamo-nos subservientes.
Afinal, dizem os porta-vozes da "ordem", temos que nos submeter às
autoridades.
Se dependesse desses "protestantes", os
discípulos de Jesus jamais seriam conhecidos como "aqueles que subvertem o
mundo"; Jesus nunca teria "vandalizado" o templo em Jerusalém,
derrubando mesas, soltando os bichos engaiolados, e tudo isso, munido de
chicote; Lutero jamais teria "vandalizado" o castelo de Wittemberg
com suas 95 teses, insurgindo-se contra a autoridade papal; William Wilberforce
nunca teria desafiado o regime escravagista inglês, provocando um efeito dominó
que culminaria na libertação dos escravos nos Estados Unidos, no Brasil e no
resto do mundo; Dietrich Bonhoeffer não teria desafiado o nazismo (ou Hitler
não era uma autoridade?).
A ausência da igreja cristã nos protestos, o
silêncio de sua liderança, ou mesmo, as duras críticas que alguns têm feito ao
movimento, causam-me profunda tristeza.
A gente só se reúne quando está em jogo algo de nosso
interesse. Por isso a sociedade não nos leva mais a sério. Somos anacrônicos.
Indiferentes ao que Deus está fazendo para além dos nossos muros. Não tenho
dúvida que por trás de tudo isso está o Espírito de Deus.
Recordo-me da ocasião em que Paulo sofreu um
naufrágio juntamente com toda tripulação que embarcara para Roma. Todos
sobreviveram e acabaram numa ilha chamada Malta. Estava muito frio. Os nativos
socorreram os sobreviventes e acenderam uma fogueira para aquece-los. Paulo,
então, toma a iniciativa de sair a procura de lenha para alimentar a fogueira.
Afinal, aquela chama aquecia igualmente a todos. Não era hora de um discurso
moralista, nem mesmo de um sermão evangelístico. O mais importante naquele
instante era o bem comum. Todos precisavam ser protegidos do frio. Enquanto se
aqueciam, uma víbora saltou do fogo e apegou-se à mão de Paulo. Surpreso, o
apóstolo sacudiu-a e devolveu-a ao fogo. Os que assistiram à cena, ficaram
atônitos, esperando que Paulo sucumbisse por causa do veneno da víbora. O tempo
passou e Paulo sobreviveu. No outro dia, ele teve a oportunidade de anunciar o
evangelho a todos os moradores da ilha, conduzindo-os a Cristo.
Muitos líderes cristãos acham que só devem
participar de movimentos que sejam encabeçados pela própria igreja. Ora, se
Paulo pensasse assim, não teria saído em busca de lenha para alimentar aquela
chama. Afinal, não foi ele quem a acendeu. Outros se preocupam de envolver suas
igrejas em protestos como estes por conta dos riscos, principalmente depois que
ação truculenta da polícia. Porém, se não formos capazes de nos expor por amor
aos demais, com que credibilidade lhes anunciaremos o evangelho depois?
O mundo precisa saber que nos importamos, não
apenas com questões morais ou com o destino de suas almas, mas também com o que
diz respeito ao bem comum.
Que
Deus levante em nossos dias uma igreja legitimamente protestante, que se
disponha a buscar lenha para alimentar a chama da justiça. Quem sabe se assim
não conseguiremos resgatar nossa credibilidade e relevância?
Fonte: Blog CRISTIANISMO SUBVERSIVO
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