Defesa do Evangelho busca a prática sincera dos verdadeiros ensinos do SENHOR JESUS CRISTO. “...Sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda” (Filipenses 1.17-18). Participe dessa Defesa! Deixe o seu comentário ao final do artigo ou escreva para o nosso email: adielteofilo7@gmail.com

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O CRISTÃO E A POLÍTICA

Não deve o Pescador de Almas se tornar caçador de votos, nem o fazedor de promessas em Pastor de Ovelhas.

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por finalidade suscitar reflexão sobre as relações entre o cristão a política e Estado. Convém destacar inicialmente alguns conceitos importantes: Cristão é o seguidor de Jesus Cristo, aquele que busca conhecer e praticar os seus ensinamentos. Os discípulos do Senhor Jesus foram chamados pela primeira vez de cristãos na cidade de Antioquia, conforme registra Atos 11.26.

Acrescentam-se outros conceitos: Política é arte de bem governar os povos, a atividade exercida na disputa de cargos e de governo, e, a habilidade no trato das relações humanas com vistas à obtenção dos resultados desejados. Teocracia é a forma de governo em que a autoridade, emanada dos deuses ou de Deus, é exercida por seus representantes na terra. Tirania é o governo em que o poder é exercido por meio da opressão e da crueldade. Democracia é o governo do povo, regime político baseado nos princípios da soberania popular. A par disso, passemos ao estudo.

I – POLÍTICA E RELIGIÃO

1.1 – A Igreja e o Estado

A força política e a religiosa sempre se mantiveram presentes ao longo dos séculos. A história registra, desde as mais antigas civilizações, períodos e formas diferentes de administração do poder religioso e estatal.

No Antigo Império Egípcio (3300 a 2300 a.C.) os Faraós eram chefes políticos absolutos e venerados como deuses. Nos anos seguintes, predominou o politeísmo - coexistência de práticas religiosas a vários deuses. Faraó Amenófis IV (1380 a 1362 a.C.) chegou a promover uma grande reforma religiosa, ordenando a adoração de um único deus, tentando assim a implantação do monoteísmo, culto a apenas uma divindade.

No Livro de Êxodo, capítulos 1 e 7, há referências aos Faraós do Egito. É mencionado aquele que mandou matar os recém-nascidos do sexo masculino, filhos das hebréias, bem assim o que tentou impedir a saída do povo de Israel do Egito.

Entre os Hebreus, o líder reunia atribuições políticas, religiosas e até militares. O sacerdote era juiz e o templo tribunal. Era magistrado e ao mesmo tempo responsável pela atividade religiosa do povo. Desde o primeiro patriarca Abraão, passando por Moisés, pelos Juízes Gideão, Jefté, Sansão e Samuel, e mais tarde pelos reis Saul, Davi e Salomão, além dos sucessores, a prática das celebrações religiosas foram conduzidas e influenciadas diretamente pelos governantes. Assim, incumbiram-se de preparar o altar, o tabernáculo e posteriormente o templo em Jerusalém.

A influência da religião sobre o governo daquele povo resultou na regulamentação minuciosa da vida de Israel, através de uma legislação de natureza autenticamente religiosa, capitulada no Pentateuco – os cinco primeiros livros da Bíblia. O capítulo 18 de Êxodo relata que Moisés assentava-se para decidir os litígios entre o povo, permanecendo em pé de manhã até o pôr-do-sol. Seu sogro Jetro, vendo que lhe era pesado demais esse encargo, o orientou a dividir a responsabilidade entre chefes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez pessoas, para que também julgassem as questões.

No Império Romano, durante a expansão do cristianismo, instituiu-se o culto ao imperador. O cristianismo se negou a admitir o “césar-deus”, o que foi considerado um perigo para o Estado, desencadeando-se terríveis perseguições aos primeiros cristãos, que foram torturados, queimados vivos e jogados às feras nas arenas.

Entre os árabes, descendentes de Ismael, filho de Abraão, surgiu o Estado Islamítico. Nos seus primeiros anos esteve intimamente ligado ao desenvolvimento da religião criada por Maomé, que foi considerado profeta e se tornou o chefe de Estado. O sogro de Maomé, de nome Abu Bekr, foi o seu sucessor, recebendo o título de califa ou sucessor do profeta.

Em Portugal, na época da colonização do Brasil, a igreja católica estava submetida ao poder real através do regalismo ou padroado - concessão ao rei de autoridade sobre a igreja. No ano de 1534, Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus, cujos integrantes, os jesuítas, eram verdadeiros soldados de Cristo na luta pela igreja e pela difusão da fé católica. Destacaram-se no movimento chamado Contra-Reforma, juntamente com os Tribunais da Inquisição, combatendo as idéias difundidas pela Reforma Protestante, preconizada por Martinho Lutero.

No Brasil, desde a colonização, a igreja esteve presente. A atuação do clero católico se deu sobretudo por meio dos jesuítas, que aqui chegaram chefiados por Manoel de Nóbrega, no ano de 1549, com a expedição de Tomé de Souza. Em virtude do padroado – subordinação da igreja à Coroa, a atuação dos jesuítas deveria ser mantida pelo Estado, resultando na criação, em 1564, da redízima – taxa especial para a Companhia de Jesus, descontada dos tributos da Coroa.

Com o passar do tempo, a Coroa começou a ver nos jesuítas uma ameaça ao seu poder, gerando um conflito que atingiu seu ponto máximo em 1759, com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo marquês de Pombal.

Depois da independência do Brasil e iniciado o período do Reinado, foi outorgada a Constituição de 1824, que declarou a religião católica como oficial do Estado – verdadeiro atentado à liberdade de consciência e de crença, pois existiam outras religiões. Os clérigos eram pagos pelo Estado, o que os equiparavam aos funcionários públicos. Ao Imperador competia nomear os sacerdotes aos vários cargos eclesiásticos.

Revendo esses registros históricos, que apontam as íntimas ligações da igreja com o Estado, compreende-se porque existem suntuosos e bem localizados templos católicos, em diversas cidades brasileiras. O patrimônio amealhado à sombra das regalias e privilégios concedidos pelo Estado é de fato grandioso. Observe que na Capital da República, em Brasília, existe a Catedral – monumento arquitetônico dedicado ao catolicismo.

Com a Proclamação da República em 1889, o Governo Provisório chefiado por Marechal Deodoro decretou a separação entre Estado e Igreja, colocando fim ao sistema de padroado no Brasil. Enfim, após séculos de estreitas relações políticas e financeiras com o Estado, a igreja passa a ser administrada sem a interferência direta dos governantes.

1.2 – Atualidades Políticas

Apesar dos avanços na legislação, as religiões não cessaram sua influência na vida política do país. Os governantes, de igual forma, também interferem no meio religioso. Nesse contexto, as relações tornam-se ou não mais próximas conforme os critérios e a postura ética adotada por cada líder de segmento religioso. Esta realidade está impregnada inclusive no meio cristão-evangélico.

Não obstante, convém lembrar que o Estado Brasileiro não pode se vincular a nenhuma religião. A atual Constituição Federal, no artigo 5º, inciso VI, assegura: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”.

Preconiza ainda a Carta Magna, no artigo 19: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;”.

Não é permitido, portanto, que o Estado assegure privilégios a um segmento em detrimento dos demais, a exemplo do que ocorreu no passado em favor da igreja católica. Apesar dessas restrições constitucionais, tem-se notícia de administradores públicos que prestam favores a líderes e instituições religiosas utilizando a coisa pública, estabelecendo alianças e acordos políticos.

A Lei Federal que trata das licitações, a exemplo, impede que áreas públicas sejam doadas a instituições privadas. Contudo, apesar da exigência legal de se realizar processo licitatório, imóveis públicos são destinados oficiosamente a igrejas, ocupados de forma precária e clandestina, “em nome de deus”, por católicos, evangélicos, espíritas e outros segmentos religiosos.

Cria-se nesse contexto verdadeira hipocrisia. A igreja ocupa como seu aquilo que é do Estado, enquanto que o político ou administrador destina à igreja o que não lhe pertence, buscando com isso prestígio e reconhecimento pessoal. Uma farsa sem escrúpulo, que deveria fazer o verdadeiro cristão ruborizar de vergonha, e não glorificar com euforia, como se vê em certos eventos.

As instituições religiosas cujas lideranças são conscientes da atual realidade política do nosso país, não ficam a mercê de favores dessa natureza. Esforçam-se por adquirir seus bens imóveis, angariando por meios éticos e segundo a Palavra de Deus, os recursos necessários para atender suas necessidades, não dependendo em nada do Estado, de políticos ou de governantes.

Nada justifica avançar na contramão da história, como tentam fazer alguns líderes religiosos. O sistema jurídico atualmente vigente no país não mais permite a concessão de favores a segmento religioso, nem possibilita a ingerência de qualquer religião na administração pública. Deve, pois, existir convivência harmoniosa e absoluta independência de atuação.

Há religiosos que sonham alcançar os altos postos de governo. Imaginam transformar a estrutura político-administrativa numa espécie de “estado religioso de direito”, como se a igreja pudesse governar o país, implantando quem sabe uma espécie de teocracia evangélica. Ora, não é esse o seu papel. A verdadeira igreja deve continuar praticando a religião, difundindo os ensinos do Senhor Jesus Cristo e atuando no sentido de converter todos indistintamente à salvação e à prática do bem.

Analise com cuidado o seguinte texto bíblico: “É lícito (1) pagar tributo a César, ou não? Mas Jesus, percebendo-lhes o ardil, respondeu: Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e a inscrição? Prontamente disseram: De César. Então lhes recomendou Jesus: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus (2).” (Lucas 20.22 a 25)


(1) “É lícito – Isto é, está de acordo com a Torá, a lei sagrada ? O tributo do censo era imposto por Roma a todos os Judeus. A questão que ardia como fogo nas mentes de muitos judeus era simplesmente esta: Se Deus entregara a terra de Israel aos hebreus, e desejava que vivessem ali, se recebia seus sacrifícios e ofertas como reconhecimento do relacionamento entre Ele e os judeus, como poderiam eles pagar tributo a qualquer outro poder, rei, deus ou pessoa ? Se Cristo dissesse que deviam pagar, seus opositores poderiam acusá-lO de deslealdade para com o judaísmo; caso dissesse que não, poderiam denunciá-lO aos romanos” (Bíblica Anotada, Editora Mundo Cristão).
(2) “Cristo reconheceu a distinção entre responsabilidades políticas e espirituais. A César cabiam impostos e toda obediência política justa, a Deus cabiam a adoração, a obediência, o serviço e a dedicação de toda a vida do indivíduo.” (Op. Cit.)

O Senhor Jesus ensinou o caminho da obediência às Autoridades. Todavia não impôs e nem sugeriu a nenhum seguidor se imiscuir nas ações do Estado. Ao contrário, demonstrou a nítida separação entre as obrigações civis e as religiosas, indicando o dever de cumprir estas sem descurar daquelas. Isto é, obediência aos homens sem desobedecer a Deus, o que é perfeitamente possível, quando se estabelece a completa separação entre Igreja e Estado, entre o que é terreno daquilo que é espiritual.

1.3 – As Religiões na Atualidade

A grande proliferação de religiões no mundo é uma realidade incontestável. Não se sabe ao certo quantas são e nem quais aquelas que de fato ensinam e obedecem aos princípios da Bíblia Sagrada. A dúvida paira até mesmo entre denominações que se intitulam evangélicas. Há países, como a Índia, onde existem milhares de religiões, cultuando os mais estranhos deuses imagináveis.

Percebe-se, à toda evidência, que se trata do cumprimento profético da Palavra de Deus, quando afirma que no final dos tempos se multiplicaria a iniqüidade, e ainda: “...porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito.” (Mateus 24.24 e 25).

Há religiões, dentre as inúmeras existentes, que convivem em harmonia. Respeitam as diferenças entre os seguidores e não se envolvem em conflitos, como acontece em nosso país. Todavia, outras não se desvincularam do Estado. Porquanto os seus líderes e seguidores não admitem a idéia de que a religião pode coexistir pacificamente com a presença de um Estado político, organizado e principalmente com liberdade de consciência e de crença.

Daí a existência de tantos conflitos em alguns países. Para eles a crença religiosa se sobrepõe ao conceito de governo, estabelecendo os princípios religiosos como a base de organização do Estado. Ferem a liberdade individual do ser humano de poder escolher a religião e a forma de expressar suas convicções. Impõem, até mesmo com o emprego da força e da violência, o credo a que todos devem se submeter. Com todo o respeito que é devido, indaga-se, por exemplo: Que deus é esse, dos radicais e fundamentalistas islâmicos, que não concede aos seus seguidores a opção de escolher segui-lo ou não?

“Uma parte do meu povo não cessará de lutar pela verdade. Fazei a guerra, com sangue e extermínio, a todos que não crêem em Deus. Quando encontrardes com os infiéis, matai-os.” (Sentenças de Maomé que constam do Hadith – corpo de tradições do islamismo compilado anos depois de sua morte).

Jesus Cristo, muito pelo contrário, nunca obrigou e nem obriga ninguém a segui-lO. Mansamente convida: “Vinde a mim todos...” (conforme registra Mateus 11.28). Graças a Deus que no Brasil há plena liberdade religiosa. A própria Constituição Federal, no artigo 5º, inciso VIII, estabelece: “...ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, ...”.

É forçoso reconhecer, ante tais circunstâncias, que não se pode destruir em nome da fé os valores democráticos, nem se utilizar da democracia para impor convicções religiosas. O que passa disso é puro fanatismo.

II – GOVERNO E POLÍTICA NO BRASIL

2.1 – Organização Político - Administrativa

A República Federativa do Brasil é organizada compreendendo a União, os Estados Federados, o Distrito Federal e os Municípios. Todos gozam de autonomia política e administrativa nos limites fixados pela Constituição Federal, possuindo como Poderes organizados o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, que são exercidos pelas diversas autoridades que os compõem.

O cristão tem o dever de se submeter aos governantes: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano; quer às autoridades, como envidadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores, como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de deus. Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus, honrai ao rei.” (I Pedro 2. 13 a 17).

E ainda: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmo condenação.” (Romanos 13.1 e 2).

A atividade política é intensamente exercida pelos membros do Poder Legislativo. No âmbito nacional, atuam os senadores da república, que representam os seus Estados onde foram eleitos, e, os deputados federais, que são os representantes do povo. Nos Estados atuam os deputados estaduais e no Distrito Federal, os deputados distritais. No âmbito municipal temos os vereadores.

Na esfera do Poder Executivo também são desenvolvidas inúmeras atividades de cunho político. Os programas de governo estabelecidos pelo Presidente da República e seus Ministros, pelos Governadores, Prefeitos e seus Secretários, são executados mediante as chamadas políticas públicas. O governante implementa projetos e realiza atividades públicas segundo critérios de conveniência e oportunidade, considerando fatores econômicos, políticos e sociais de cada região.

A autonomia administrativa e os princípios democráticos criam o espaço propício às intervenções da sociedade. Essa liberdade de participação, corretamente exercida, gera benefícios para a coletividade e visa o bem-estar de todos. Caso não esteja voltada para os fins sociais a que se destina, essa liberdade de decisão do administrador público pode atender a interesses pessoais ou de grupos privilegiados, gerando desvios, corrupção e imoralidade no trato com o bem público.

A Bíblia Sagrada alerta: “Se vires em alguma província opressão de pobres, e o roubo em lugar do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que está alto tem acima de si outro mais alto que o explora, e sobre estes há ainda outros mais elevados que também exploram. O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo. Quem ama o dinheiro, jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade.” (Eclesiastes 5.8 a 10).

Corretamente exercido, o poder político pode contribuir para o bem-estar de todos, reduzindo as desigualdades sociais. Na via oposta, é um mal que corrói os valores morais, a ética e os até bons costumes.

2.2 – Democracia e Partidos Políticos

O Brasil é constituído em Estado Democrático de Direito, conforme dispõe a Constituição Federal em seu primeiro artigo. Prevê ainda que o poder emana do povo, que o exerce por intermédio dos representantes eleitos pelo voto direto e secreto.

O Estado Brasileiro tem como Princípio Fundamental, dentre outros, o pluralismo político – diversidade de convicção político-filosófica. Há liberdade de criação e atuação partidária, respeitadas a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana.

A liberdade dos partidos não pode ferir a liberdade do indivíduo. Ninguém pode ser privado de seus direitos em razão de convicções políticas, nem mesmo ser obrigado a se filiar ou a permanecer filiado a um partido político.

Os partidos políticos - pessoa jurídica de direito privado - são organizados com o fim de permitir a intensa participação popular. Todavia, muitas vezes não passam de máquina instituída e articulada para a conquista do poder, representando bem mais interesses de grupos ambiciosos que os legítimos anseios populares.

A falta de programas bem definidos, a infidelidade dos políticos aos partidos e a falta de inclinação do povo para a vida cívica e associativa, são fatores que contribuem para o desapreço generalizado pelos partidos e as propostas que exibem. Tudo isso concorre para a atuação dos representantes eleitos de forma dissociada das reais aspirações e reivindicações da sociedade, distante da realidade social da imensa maioria do povo.

Há partidos que se autodenominam cristãos, porém os seus fins não estão voltados, e nem poderiam estar, para os reais objetivos do cristianismo. O consenso entre os partidos e seus integrantes não é tarefa fácil, face as pretensões e ambições que alimentam. Nem mesmo entre os cristãos e as denominações evangélicas há consenso ou unanimidade de pensamento! Foi assim também no passado: “Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? Quando, pois, alguém, diz: Eu sou de Paulo; e outro: Eu, de Apolo; não é evidente que andais segundo os homens? “ (I Coríntios 3 . 3 e 4).

É lamentável quando igrejas atuam como verdadeiros partidos políticos. Além das divisões que isso naturalmente causa, em face das divergências de opinião e opção político-partidária, ocorrem as vergonhosas disputas internas entre candidatos que o segmento religioso defende. Ministros de confissão religiosa, obreiros e líderes, reunindo uma facção de “verdadeiros homens de deus”, exercem a atividade eclesiástica não como servos do reino celestial, porém como militantes de seus próprios interesses políticos, sob a cínica farsa de ideais religiosos.

2.3 – Campanhas Eleitorais

As campanhas eleitorais prenunciam a chegada do discurso fácil. Surgem propostas por grandes mudanças, de um novo tempo da vida pública e das mil e uma promessas de campanha. Na verdade o falatório é muito e o realizar é pouco. Os próprios candidatos sabem que se eleitos não conseguirão cumprir metade daquilo que prometem fazer. Todavia, escolhem esse caminho na conquista do voto, despertando nos eleitores o sentimento de uma vida melhor, criando a falsa expectativa de que as necessidades e problemas serão finalmente resolvidos.

Assim nos aconselha a Palavra de Deus: “...Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti; tem uma faca à tua garganta, se és homem glutão. Não cobices os seus delicados manjares, porque são comidas enganadoras.” (Provérbios 23.1 a 3).

E outra vez assevera: “Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas cousas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais participantes com eles.” (Efésios 5. 5 a 7).

Nessas ocasiões surgem de todos os lugares pessoas bem dispostas e falantes. Muitas sequer foram vistas antes tão envolvidas com problemas sociais e causas públicas. Despejam afirmações otimistas e soluções prontas para todas as questões da comunidade. Não poupam elogios às habilidades e capacidades pessoais. Disparam críticas contra os que governam, culpando-os por todas as mazelas que existem. Buscam por todos os meios convencer os ouvintes, fazendo-os acreditar que tudo podem mesmo resolver – é a “caça ao voto”.

Brotam também as excentricidades. Candidato que prega com eloqüência, buscando ganhar voto por meio da oratória bíblica. O terrorismo político-religioso, que dissemina o medo e a insegurança para colher proveito eleitoral. A espiritualização, verdadeira demonização de partidos e propostas, aproveitando-se da desinformação popular, a fim de semear a desconfiança e o descrédito sobre os concorrentes. Além de outras práticas nada ortodoxas.

O cristão deve julgar todas as coisas e reter o que é bom (I Tessalonicenses 5.21). Deve analisar e escolher com cautela aquele que poderá melhor representar a comunidade e as suas reais aspirações. Deve julgar de forma criteriosa cada promessa ou proposta apresentada, pois nem tudo é possível ser mudado ou solucionado de imediato. Custa trabalho, esforço, dinheiro e boa-vontade, para solucionar os problemas da vida em sociedade.

“Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular. Atenta para as obras de Deus: pois, quem poderá endireitar o que ele torceu? No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera em que Deus fez assim este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.” (Eclesiastes 1.15 e 7.13 e 14).

O pior de tudo é quando o púlpito se torna palanque. O altar sagrado da pregação autêntica da Palavra de Deus e da adoração sincera ao Senhor transforma-se em tribuna da verborragia eleitoreira. Os assentos na plataforma das Igrejas que outrora eram ocupados apenas por dedicados obreiros, agora são divididos com a presença de homens profanos, ambiciosos e de conduta ético-moral manifestamente duvidosa.

Líderes religiosos também têm participado diretamente dessa corrida insana. Candidatos sob a capa de apóstolos, bispos, pastores e outras santidades, aproveitam-se da posição eclesiástica que ocupam e do prestígio espiritual que gozam perante o rebanho de fiéis, a fim de se transverterem de pastor de ovelhas em caçador de votos. Depois de eleitos, ninguém os vê utilizar as tribunas legislativas como púlpitos de pregação da Bíblia Sagrada.

Para tudo há tempo e propósito determinado. É admissível falar de política e receber candidatos nos templos religiosos. Para tal finalidade é possível convocar reunião administrativa, aberta à participação dos membros e congregados. O assunto em pauta por certo guardará clara distinção dos propósitos de um autêntico culto religioso.

É intolerável a falta de respeito com que alguns líderes se aproveitam arbitrariamente da programação regular da Igreja. Submetem os fiéis ao constrangimento de ouvir discursos vazios e inadequados ao momento de culto, muito distantes e em nada semelhantes ao verdadeiro alimento espiritual que foram ao templo buscar da parte de Deus. Porquanto, durante as celebrações religiosas não é ocasião apropriada para campanha eleitoral. Não há unidade entre os dois altares.

III – PARTICIPAÇÃO CRISTÃ NA POLÍTICA

3.1 – O Cristão e a Política

O cristão, todavia, não pode se alienar do processo político-eleitoral do país. Certo é que não se exige a participação direta na vida pública, porém é necessário compreender o que se passa e entender as propostas, visando tomar a melhor decisão no momento de escolher os representantes.

Como cidadão, todo cristão tem responsabilidades a cumprir. O voto ainda é obrigatório em nosso país, a partir dos 18 anos de idade. Aos maiores de 70 anos é facultativo, bem assim aos maiores de 16 e menores de 18 anos de idade, conforme dispõe o artigo 14, da Constituição Federal. Além disso, deve respeitar os direitos individuais, coletivos e sociais, bem como cumprir toda a legislação vigente.

A existência do estado e dos governantes é necessária para a vida em sociedade. As cidades, os municípios, os estados e o próprio país precisam dos agentes políticos e das demais autoridades constituídas, a fim de cuidar da administração pública, dos bens e serviços em geral. Podemos e devemos contribuir para o bem-comum, não apenas com o voto, mas também apresentando propostas, sugestões, críticas e reivindicações. Tudo isso sem perder a identidade inconfundível de cristão. Cuidando do que é terreno sem descuidar do que é celestial.

Além da responsabilidade pessoal na escolha dos representantes, a participação cristã deve se estender à convivência pacífica, ordeira e respeitosa para com o Poder Público e as autoridades. A Palavra de Deus nos recomenda: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa (“...quieta e sossegada..”– Edição Revista e Corrigida), com toda piedade e respeito (“...piedade e honestidade.” – idem). Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador.”(I Timóteo 2.1 a 3 – Edição Revista e Atualizada). É, pois, dever de todo cristão orar, interceder e participar como cidadão.

3.2 – A Igreja e a Política

Na honrosa condição de corpo de Cristo, até que ponto a Igreja pode manter relações políticas e de colaboração com os governantes? Apoiar diretamente um candidato ou um partido político contraria ou não princípios do autêntico cristianismo? A Igreja tem alguma incumbência política ou governamental nesta terra? Como deve agir?

A vida e a obra de Jesus Cristo consagram os princípios do verdadeiro e autêntico cristianismo. Durante o seu ministério terreno, não demonstrou em nenhuma ocasião que tenha mantido ligações pessoais ou efetuado troca de favores com os governantes de sua época. Ao contrário, na defesa da verdade e da integridade moral diante de Deus, foi sincero e severo em suas afirmações.

Assim sendo, não poupou repreensão dirigida aos escribas(1), fariseus(2), saduceus(3) e herodianos(4), conforme se fazia necessário corrigi-los. Atitude essa que líderes religiosos de nosso tempo bem deveriam imitar, diante de determinados políticos e candidatos que batem à porta dos templos propondo troca de favores. No entanto, a conduta de alguns líderes tem se revelado bem pior que a daqueles primeiros, repreendidos por Cristo.

O rigor não foi menor com o monarca da época. Jesus estava ensinando quando aproximaram alguns fariseus dizendo a Ele para se retirar, pois o Rei Herodes queria matá-lO. Jesus assim lhes respondeu: “Ide dizer a essa raposa(5) que hoje e amanhã expulso demônios e curo enfermos, e no terceiro dia terminarei.” (Lucas 13.31 e 32). Observe que o Mestre continuou realizando a Obra de Deus, curando e resgatando as vidas da opressão maligna, sem se preocupar com a conspiração e perseguição, nem se importar com o poderio Romano.

Após sua prisão, Jesus foi levado perante Pilatos (6), que O interrogou: “És tu o rei dos Judeus?” Jesus lhe respondeu: “O meu reino não é deste mundo...” (João 18.33 e 36). Outras passagens bíblicas igualmente nos mostram que o Reino de Jesus Cristo não é realmente deste mundo. Pois Ele próprio disse que desceu do céu para fazer a vontade daquele que O enviou: “De fato a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6.40).

As atividades desenvolvidas pelo Senhor Jesus voltarem-se exclusivamente para a salvação – a vida eterna com Deus. Ligou-se ao mínimo, porque não dizer apenas o indispensável, às coisas terrenas, a fim de realizar o que é espiritual. Temos os seguintes exemplos dessa verdade incontestável: ao entrar em Jerusalém durante sua aclamação pública utilizou um jumentinho emprestado (Lucas 19.33); ao comer a última páscoa com os discípulos usou provisoriamente um cômodo mobiliado que não era seu nem dos discípulos (Lucas 22.11). "E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça." (Mateus 8.20).

Tudo isso comprova que Jesus Cristo não tinha e nem ensinou apego a pretensões materiais. Não esboçou o menor interesse em constituir na terra uma igreja como forte império econômico, com templos suntuosos ou atividades lucrativas mediante a comercialização de artigos e produtos evangélicos. Demonstrou o verdadeiro amor que reparte o pão com o faminto e ampara o pobre em suas necessidades.
(1) Escribas – copistas do livro da lei e das Escrituras, funcionavam como advogados, sendo-lhes confiada a administração da lei como juízes no sinédrio ( Mateus 22.35).
(2) Fariseus – influente seita judaica, doutrinariamente ortodoxa, cujo zelo pela lei mosaica levava a uma observância estrita, embora externa e degenerada da lei e das tradições interpretativas. Justos aos seus próprios olhos, foram inimigos ferrenhos do Senhor Jesus. (Mateus 9.3 e 23.15).
(3) Saduceus – partido das famílias dos sumo-sacerdotes de Jerusalém, com interesses diretos no aparelho cultual do templo, colaboravam com os governantes romanos. Opunham-se a Cristo com a mesma veemência que os fariseus e foram condenados pelo Senhor Jesus com igual severidade (Mateus 16.1 a 4, e 6).
(4) Herodianos - partido judaico que defendia a dinastia de Herodes e a convivência pacífica com os romanos (Mateus 22.16, Marcos 3.6 e 12.13).
(5) Herodes Antipas é descrito como uma raposa, animal conhecido por usar a esperteza para conseguir seus fins.
(6) Pilatos - Procurador romano, governador da Judéia, era comandante de um exército de ocupação, mantinha constante o fluxo dos impostos para Roma, tinha poder de vida e morte sobre os governados, indicava o sumo sacerdote e decidia os casos que mereciam a penal capital.

Cristo também não sugeriu a criação de partido político para confrontar a dominação romana daquele tempo. Não se associou em nada aos governantes, sejam judeus ou romanos. Não fez indicação de algum concorrente ao sinédrio, ao cargo de sumo sacerdote ou a qualquer outra posição administrativa, política, militar ou religiosa daquela época. Pelo contrário, cuidou exclusivamente de instruir e outorgar à sua Igreja autoridade contra as portas do inferno (Mateus 16.18).

Apesar dessas verdades bíblicas irrefutáveis, encontramos em nossos dias igrejas evangélicas envolvidas diretamente com políticos, partidos e governantes. Trocam cortesias e palavras elogiosas, quando o discurso, a bem da verdade, deveria ser o de abandonar a prática do pecado, da mentira e da corrupção. Celebram acordos, como se o evangelho dependesse de governo humano para prosseguir sua marcha nesta terra. E assim, de mãos dadas, trigo e joio, em uma comunhão inexplicável entre luz e trevas, seguem caminhando juntos. É lamentável!

O povo de Deus, nesse contexto, presta-se mais a servir de base eleitoral. A consciência do rebanho é comercializada às ocultas, com troca de favores e vantagens pessoais – dinheiro, cargos na administração pública e outras negociatas. Os fiéis são persuadidos e encurralados a aceitar os caprichos da liderança, que impõe a opção política e de voto conforme a conveniência pessoal. O interesse volta-se mais a fins particulares, que aos reais objetivos da Igreja como instrumento de propagação do Evangelho. Quando a trama é desvendada o escândalo é inevitável.

Assim adverte a Palavra: “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e, sim, a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam os corações dos incautos.” (Romanos 16.17 e 18).

E outra vez: “Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo: O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia; visto que só se preocupam com as cousas terrenas. Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3. 18 a 20).

CONCLUSÃO

O povo de Deus deve buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, a que vem do alto. Precisa viver na certeza de que as coisas materiais, terrenas e transitórias, como os governos, as autoridades, os bens, Deus as acrescenta segundo a sua misericórdia para conosco.

A Obra de Deus precisa prosseguir na terra. O Evangelho precisa ser pregado com firmeza, determinação e com sinceridade de propósito diante do Pai. Temos nossas responsabilidades perante os homens como cidadãos, entretanto como integrantes da Igreja do Senhor fazemos parte do Corpo de Cristo. Diante disso, não podemos permitir que nada deste mundo venha mudar os objetivos ou desviar dos reais propósitos da Igreja na pregação da mensagem da cruz.

O cristão e a Igreja do Senhor Jesus podem conviver em harmonia com o estado, a política e os governantes. O que não se deve jamais conceber é a mudança de finalidade ou a confusão entre as atribuições espirituais com as terrenas.

Enfim, ao Senhor Jesus Cristo tributamos toda glória, honra e poder. Rogamos ao Pai a bênção, a unção e a direção do Espírito Santo, para que a Igreja cumpra com excelência a missão que lhe está proposta, até o dia da volta do seu Senhor.

BIBLIOGRAFIA

-  Bíblia Sagrada. Versões Revista e Corrigida e Almeida, Revista e Atualizada.
- BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. 18ª impressão. São Paulo, Editora Vida, 1999.
- Chave Bíblica. Sociedade Bíblica do Brasil. São Paulo, Companhia Brasileira de Impressão e Propaganda, 1989.
- Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
- DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia. 16ª edição. Rio de Janeiro, Junta de Educação
- Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira – JUERP, 1990.
- Defesa da Fé. Revista de Apologética do Instituto Cristão de Pesquisas. São Paulo. Nov/Dez 1998 e Nov/2001.
- FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986.
- FILHO, M. G. FERREIRA. Curso de Direito Constitucional. 20ª edição. São Paulo, Editora Saraiva, 1993.
- KOSHIB, Luiz e PEREIRA, Denise M. Frayze. História do Brasil. 5ª edição. São Paulo, Atual Editora, 1987.
- MAIOR, A . Souto. História Geral. 6ª edição. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1968.
                                                                                             Adiel Teófilo

Nenhum comentário:

Postar um comentário